A Rússia utiliza mísseis balísticos norte-coreanos na Ucrânia, afirma um novo relatório do Pentágono baseado em análises dos destroços dos projéteis, para confirmar as afirmações americanas de longa data de que Moscou está recebendo assistência militar de Pyongyang.

A Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos (DIA, na sigla em inglês) usou imagens de código aberto para confirmar que os destroços encontrados em janeiro na província de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, eram de um míssil balístico de curto alcance produzido na Coreia do Norte.

A DIA comparou as imagens divulgadas pela mídia estatal norte-coreana com fotografias desses fragmentos de mísseis descobertos na Ucrânia.

"A análise confirma que a Rússia está utilizando mísseis balísticos produzidos na Coreia do Norte em sua guerra contra a Ucrânia", afirmou a agência americana em comunicado divulgado na quarta-feira (29), junto com o relatório.

"Foram encontrados destroços de mísseis norte-coreanos por toda a Ucrânia", acrescentou.

Seul acusa Pyongyang de enviar milhares de contêineres de armas para a Rússia, desafiando as sanções da ONU contra os dois países: a Rússia pela invasão à Ucrânia e a Coreia do Norte por seu programa nuclear.

Kim Yo Jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong Un, e uma das principais porta-vozes do governo, refutou as acusações como "absurdas" em maio, afirmando que Pyongyang "não tinha intenção de exportar suas capacidades técnicas militares para qualquer país".

Especialistas afirmam que a recente série de testes de armamentos da Coreia do Norte, incluindo mísseis de cruzeiro e outros projéteis balísticos, podem estar relacionados ao envio de armas para as tropas russas na Ucrânia.

O Ministério da Defesa sul-coreano disse à AFP que não tinha nada a comentar sobre o relatório.

- Cooperação 'desinibida' -

Entre as fotografias usadas pela DIA estão imagens divulgadas por Pyongyang após uma visita do líder norte-coreano a fábricas militares em agosto de 2023, realizada para inspecionar mísseis táticos e veículos de lançamento, observa Hong Min, analista do Instituto Coreano para a Unificação Nacional.

Essas imagens "parecem oferecer evidências claras de seu uso" na Ucrânia e "demonstram claramente que a recente declaração de Kim Yo Jong negando a transferência de armas russas é descaradamente falsa", afirmou Hong à AFP. Pyongyang e Moscou estreitaram seus laços nos últimos meses.

A Rússia vetou em março uma decisão do Conselho de Segurança da ONU de renovar o comitê de especialistas que supervisionava as sanções da ONU contra Pyongyang.

Em 2023, Kim Jong Un fez uma viagem incomum ao exterior, à Rússia, para participar de uma cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin.

Uma visita do líder russo à Coreia do Norte está em preparação, disse o Kremlin à mídia russa em maio.

Segundo Hong Min, a recente série de testes norte-coreanos parece ser parte dos "esforços para fornecer armas adicionais à Rússia antes da visita do presidente Putin à Coreia do Norte".

Soo Kim, um ex-analista da CIA, a principal agência de inteligência dos Estados Unidos, disse à AFP que não ficou surpreso com o uso russo de mísseis norte-coreanos.

"O que é preocupante é a cooperação contínua e desinibida entre as duas nações", destacou Kim, que atualmente trabalha para a empresa LMI Consulting.

"À medida que o tempo passa e o conflito se intensifica, espera-se que o alcance dessa cooperação aumente e se diversifique", acrescentou."

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