Oitenta anos depois do Desembarque da Normandia, os aliados se reunirão na quinta-feira (6) nas praias do noroeste da França para celebrar a libertação da Europa da Alemanha nazista, além de expressar apoio à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.

O momento será carregado de simbolismo. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acompanhará os governantes dos países aliados, como o americano Joe Biden e o chefe do Governo alemão, Olaf Scholz, na praia normanda conhecida como Omaha.

Em 6 de junho de 1944, o "Dia D", uma força de 156 mil soldados e 20 mil veículos chegaram às praias da Normandia, onde os nazistas, que sob as ordens de Adolf Hitler ocuparam a Europa ocidental, não os aguardavam.

A operação titânica contribuiu decisivamente para o fim da Segunda Guerra Mundial em território europeu em 1945 com a Alemanha nazista, que estava encurralada entre duas frentes: Atlântico, ao oeste, e União Soviética, ao leste.

Mais de 4.000 pessoas, incluindo 200 veteranos do conflito, foram convidadas para as cerimônias que homenagearão, entre quarta-feira e sexta-feira, os libertadores, mas também os integrantes da resistência e as vítimas civis dos bombardeios aliados.

Além da cerimônia principal de quinta-feira, Biden, o rei britânico Charles III e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau também presidirão outras cerimônias, em seus respectivos cemitérios nacionais em território francês.

Porém, dois anos após o início de sua ofensiva na Ucrânia, a Rússia será a grande ausente das cerimônias, às quais sempre compareceu devido ao preço muito elevado que a URSS pagou na vitória final (27 milhões de mortes entre civis e militares).

O presidente russo, Vladimir Putin, foi declarado 'persona non grata' e a França desistiu da ideia inicial de convidar um representante russo para os eventos.

"Não haverá delegação russa. Não há condições, devido à guerra de agressão que a Rússia trava contra a Ucrânia e que se intensificou ainda mais nas últimas semanas", afirmou a presidência francesa.

No aniversário de 70 anos do Dia D, em 2014, Putin foi convidado, apesar de a Rússia ter anexado apenas três meses antes a então península ucraniana da Crimeia. O presidente ucraniano na época, Petro Poroshenko, também foi convidado.

A presença de ambos levou ao início das discussões do "Quarteto da Normandia", com mediação de França e Alemanha, para tentar solucionar o conflito separatista pró-Rússia no leste da Ucrânia.

- "Paz e segurança" -

Mas a diplomacia acabou dando lugar à guerra. Vladimir Putin, sempre disposto a mencionar "Grande Guerra Patriótica" soviética, afirma agora que deseja "desnazificar a Ucrânia", comparando a Ucrânia de Zelensky à Alemanha de Hitler.

"O mais importante será a comemoração do próximo ano (do 80º aniversário), da Vitória na Grande Guerra Patriótica", respondeu o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Nas praias da Normandia, os ocidentais devem demonstrar união contra a Rússia após o fim de um novo tabu: Estados Unidos e Alemanha autorizam agora Kiev a utilizar os mísseis que fornecem para atacar, com algumas condições, alvos no território russo.

O presidente francês, Emmanuel Macron, que abriu o caminho em janeiro e surpreendeu os aliados ao não descartar a possibilidade de enviar soldados à Ucrânia por considerar que a Europa "pode morrer", também prometeu novos anúncios por ocasião da visita de Zelensky.

A guerra na Ucrânia "é um período que nos obriga a questionar o preço que estamos dispostos a pagar por nossa liberdade e para defender nossos valores", escreveu Macron em uma mensagem para a data.

"Que o exemplo destes heróis (do Desembarque na Normandia), sejam famosos ou anônimos, fortaleça a nossa determinação e a nossa confiança em um futuro de paz e segurança", acrescentou.

Ucrânia e França negociam o envio de instrutores militares franceses a Kiev, mas Paris deseja a participação de outros países na iniciativa, segundo várias fontes.

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