O aquecimento global causado pelas atividades humanas acelera a um "ritmo sem precedentes" enquanto a margem para conter o aumento de temperaturas a +1,5 ºC diminui, advertiram pesquisadores em um estudo publicado nesta quarta-feira (5).
"O aquecimento causado pelo homem aumentou a um ritmo sem precedentes nas medições instrumentais, atingindo 0,26 ºC entre 2014 e 2023", indicam os autores do estudo.
O relatório, publicado na revista Earth System Science Data, é resultado do trabalho de quase 60 cientistas de renome que seguem os métodos do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
Em relação à era pré-industrial, a atividade humana provocou um aumento das temperaturas de 1,19 ºC no período estudado e uma alta em relação aos valores do último relatório há um ano (+1,14 ºC entre 2013 e 2022).
Só no ano de 2023, o aquecimento atribuível à atividade humana foi de 1,31 ºC. O aumento total foi de 1,43 ºC, considerando variáveis naturais como o fenômeno El Niño.
- Recorde de emissões -
Os autores do relatório pretendem fornecer anualmente dados atualizados que sirvam de base para as negociações das cúpulas climáticas em uma década considerada decisiva para cumprir os objetivos do Acordo de Paris de 2015.
A cúpula climática daquele ano fixou a meta de limitar o aquecimento global abaixo dos 2 ºC em relação à era pré-industrial e, se possível, não superar 1,5 ºC.
A publicação do relatório coincide com uma reunião em Bonn, na Alemanha, para avançar nas negociações climáticas antes da COP29 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.
O aquecimento é uma consequência das emissões de gases de efeito estufa, causadas principalmente pela utilização em massa de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão.
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Estas emissões poluentes estão em níveis recordes, com cerca de 53 bilhões de toneladas de equivalentes ao CO2 anualmente entre 2013 e 2022.
Paradoxalmente, outro fator que contribui para o aquecimento é a redução de partículas poluentes na atmosfera que refletem a energia do Sol de volta ao espaço.
"A principal razão é a despoluição do ar, primeiro na Europa e nos Estados Unidos, e mais recentemente na Ásia, particularmente na China", disse à AFP Glen Peters, do Centro Internacional de Pesquisa Climática, em Oslo.
Por outro lado, alguns pesquisadores apontam que regulamentações mais rígidas no transporte marítimo e a redução da utilização de carvão diminuíram as emissões de dióxido de enxofre e contribuíram para algum resfriamento, diz Peters.
-"Um pouco de otimismo" -
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Mas o limite mundial de carbono – a margem ainda disponível para gerar emissões mantendo 50% de probabilidade de conter o aquecimento global a 1,5ºC – está se esgotando.
Atualmente, é de cerca de 200 bilhões de toneladas, o equivalente a cinco anos de emissões no ritmo atual.
"É uma década crítica", alertam os autores. "É previsível que nos próximos dez anos atinjamos ou ultrapassemos o aquecimento global de 1,5 ºC".
"Mas é também a década em que podemos esperar que as emissões mundiais atinjam o pico e comecem a diminuir consideravelmente", acrescentam.
De fato, embora tenha alcançado níveis recordes, o aumento das emissões de CO2 desacelerou em relação ao início de 2000.
O relatório carrega "um pouco de otimismo", diz Piers Forster, da Universidade de Leeds e principal autor do estudo.
"As emissões de gases com efeito estufa aumentaram mais lentamente do que em 2000, mas continuam aumentando", assim como sua "concentração e o aquecimento também", explica à AFP Pierre Friedlingstein, da Universidade de Exeter.
"Precisam reduzir a uma emissão líquida zero", enfatiza.