A Rússia não estará representada nas comemorações do 80º aniversário do Desembarque na Normandia, após ter sido excluída pela sua agressão contra a Ucrânia, apesar do alto preço que a União Soviética pagou na vitória final dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. 

A França não convidou nenhum representante do governo de Vladimir Putin, mas também não convidou ninguém da oposição russa ou da sociedade civil, um sinal do isolamento do país pelas potências ocidentais. 

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, cujo país luta há mais de dois anos para repelir a invasão russa, foi convidado, uma forma de demonstrar até que ponto os aliados pensam que Moscou está do lado errado da história. 

O presidente dos EUA, Joe Biden, o rei britânico Charles III e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também comparecerams, representando as três grandes nações que desembarcaram nas praias normandas em 6 de junho de 1944. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, também convidou quase 200 veteranos testemunhas desta página da história. Para alguns dissidentes russos, a exclusão dos representantes de Putin é legítima, mas não compreendem por que se aplica a todos.

- "Não é normal" -

"Não é normal que representantes da Rússia, que sacrificou milhões de soldados nesta guerra, não estejam presentes" nas cerimônias, diz Lev Ponomarev, co-fundador da ONG russa de direitos humanos Memorial, à AFP. 

"Os representantes da Rússia fascista não têm lugar lá, mas acredito que a oposição poderia e deveria ter estado lá", lamenta este famoso dissidente de 82 anos, que se exilou na França após a invasão da Ucrânia. 

"Nós representamos a Rússia que derrotou o nazismo, até porque nos levantamos contra o fascismo de Putin", afirma o cofundador da ONG que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2022. 

Para Olga Prokopieva, representante da associação 'Russie-Libertés', com sede em Paris, "a propaganda russa aproveitará a ausência da Rússia e a apresentará como uma humilhação do povo russo".

Em abril, a França indicou que convidaria autoridades russas, mas não Putin, em nome da contribuição soviética para a vitória contra a Alemanha, mas acabou por decidir não convidar ninguém por causa da "guerra de agressão" contra a Ucrânia. 

A 'Russie-Libertés' pediu a Macron que convidasse opositores russos e membros da sociedade civil como Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny - que morreu na prisão em fevereiro -, ou Evgenia Kara-Murza, cujo marido Vladimir Kara-Murza está preso por se opor à guerra na Ucrânia. 

Embora o presidente francês tenha recebido Navalnaya no fim de semana passado, a associação não conseguiu o seu objetivo. 

A França indicou que a "contribuição decisiva" da URSS na vitória contra o nazismo seria mencionada durante as cerimônias na praia de Omaha e durante os "eventos" planejados nos cemitérios onde os soldados russos repousam em solo francês.

- "Cessar-fogo" -

Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou qualquer conversa nos últimos meses sobre a participação russa nas cerimônias. "Não tivemos nenhum contato sobre esse assunto", disse ele. 

O jornalista russo Dmitri Muratov, cofundador do jornal independente Novaya Gazeta e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2021, estima que a única presença importante nas comemorações seja a dos veteranos da Segunda Guerra Mundial. 

Para ele, a única coisa relevante é impedir a agressão russa contra a Ucrânia. Muratov apela aos veteranos para que peçam um cessar-fogo, "em memória daqueles que morreram pela paz durante a Segunda Guerra Mundial". 

"Estas são as pessoas que têm legitimidade para exigir que Putin e o mundo parem os combates", argumenta.

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