Após o revés nas eleições europeias, consideradas um "voto de punição" ao presidente Emmanuel Macron, a maioria dos deputados e responsáveis da sua aliança centrista prefere que ele fique fora da campanha legislativa francesa. 

A deputada em fim de mandato Béatrice Piron não colocará "a foto de Macron no cartaz" de sua campanha. "Defenderei a minha posição pessoal, o meu apoio local e evitarei as reações anti-Macron que às vezes existem", explica a candidata na região parisiense. 

Macron anunciou inesperadamente a antecipação das eleições legislativas, inicialmente marcadas para 2027, para 30 de junho e 7 de julho, depois de o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) ter vencido as eleições europeias na França com 31,37% dos votos. 

Este anúncio representou um balde de água fria para os deputados do governo, cuja candidatura ao Parlamento Europeu obteve 14,60%, apesar do envolvimento do presidente e do seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, na campanha.

"Sei (...) que isso é brutal para vocês, para os seus colaboradores e para aqueles que voltam à batalha", reconheceu Attal na terça-feira perante os seus deputados, que demoraram dois dias para reagir publicamente à derrota no domingo passado. 

Desde então, Macron apareceu como líder do partido no poder nas eleições legislativas: "Vou sair para vencer", disse em uma entrevista publicada na terça-feira pela Figaro Magazine. Mas os membros do seu partido Renascimento preferem que seja o seu primeiro-ministro Attal quem se mostre mais. 

Alguns parlamentares pediram que Attal aparecesse ao lado deles nos cartazes de campanha "e não o presidente", disse à AFP um funcionário do grupo parlamentar. 

Ao contrário das eleições europeias, que são uma votação a nível nacional, os franceses escolhem os seus 577 deputados em circunscrições eleitorais separadas.

Outro deputado confirma que, depois do "voto de punição" a Macron nas eleições europeias, muitos sugeriram durante uma reunião do grupo parlamentar que ele "tenha cuidado" para evitar um "voto de sanção contra os deputados que dão a cara".

"Não farei campanha nas eleições legislativas, como não fiz" em 2022 e 2017, esclareceu nesta quarta-feira Macron durante uma coletiva de imprensa sobre as eleições, embora tenha apelado a uma união em torno do seu bloco centrista e contra os "extremos" da extrema direita e da esquerda radical. 

O chefe de Estado, de 48 anos, garantiu ainda que o seu primeiro-ministro lideraria a campanha, juntamente com os líderes dos outros partidos da sua aliança: MoDem e Horizontes.

- "Serenamente presidente" -

A antecipação das eleições não afeta o mandato de Macron, que continuará como presidente até 2027. Mas ele corre o risco de, no final do seu segundo mandato, ter que compartilhar o poder com um governo de política diferente em uma "coabitação". 

Desde que chegou ao poder em 2017, a sua imagem se deteriorou à medida que enfrentava fortes protestos sociais, como os coletes amarelos e contra a reforma da previdência. 

Em abril de 2023, um ano após a sua reeleição, dois terços dos franceses o viam como "autoritário" e "arrogante", de acordo com uma pesquisa da Elabe.

"Continuo na aliança do presidente, mas para a minha campanha não posso confiar na [sua] imagem", que se tornou "detestável" para muitos eleitores, afirmou o deputado Bruno Millienne, do MoDem. 

O líder deste partido, François Bayrou, disse à rede BFMTV que "não cabe ao presidente da França dirigir esta campanha", na mesma linha do líder do partido Horizontes, Edouard Philippe. 

Emmanuel Macron é "presidente em um momento em que as instituições estarão obviamente sujeitas a turbulências. Isso justifica que ele seja total, completa e serenamente presidente", disse Philippe à mesma rede de televisão. 

Attal, Bayrou e Philippe prometeram entrar na disputa legislativa, especialmente quando também está em jogo quem liderará a aliança centrista nas eleições presidenciais de 2027, nas quais Macron não poderá mais concorrer.

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