O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta sexta-feira (14) que negociará a paz com a Ucrânia se Kiev retirar suas tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e renunciar sua adesão à Otan.
Em reação imediata, a Ucrânia rejeitou as "condições" estabelecidas por Putin para interromper a ofensiva militar em grande escala lançada em fevereiro de 2022, e Kiev tenta receber apoio internacional em uma cúpula de paz que acontecerá na Suíça neste fim de semana, que não terá a participação de Moscou.
Os dois países estão envolvidos em um sangrento conflito há mais de dois anos, e não realizaram negociações de paz diretas desde as primeiras semanas da campanha russa.
Kiev exige a retirada total das tropas russas de seu território internacionalmente reconhecido, incluindo a península da Crimeia anexada por Moscou, como parte de qualquer acordo de paz.
Mas com a Rússia em vantagem no campo de batalhas e a Ucrânia tentando contornar a escassez de militares e munições, Putin se mostrou contundente.
"As tropas ucranianas devem se retirar completamente das regiões da República Popular de Donetsk, da República Popular de Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia", declarou o presidente russo em um discurso transmitido pela televisão perante funcionários de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Em 2022, a Rússia anexou estas quatro regiões do leste e do sul de Ucrânia, apesar de não ter o controle total sobre nenhuma delas.
As capitais regionais de Kherson e Zaporizhzhia continuam sob comando ucraniano.
"Assim que Kiev (...) começar a retirada efetiva das tropas (das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia), e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações", disse Putin.
E voltou a insistir que queria uma Ucrânia "neutra, não alinhada, livre de armas nucleares, desmilitarizada e desnazificada".
O conselheiro da presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak, considerou que as afirmações do presidente russo são "ofensivas ao bom senso" e constituem "uma ofensa ao direito internacional".
Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a proposta de Putin não foi feita de "boa fé".
As reivindicações do líder russo constituem um pedido de rendição da Ucrânia, cujo objetivo é restabelecer sua integridade territorial e sua soberania.
- "Estratégia" -
Putin também criticou a cúpula de paz, da qual a Rússia foi excluída, que acontecerá em 15 e 16 de junho na Suíça, convocada pela Ucrânia. Kiev espera que cerca de 90 delegações presentes cheguem a um consenso para aumentar a pressão sobre a Rússia e a deixar ainda mais isolada.
Para o líder russo, esta é uma "estratégia para desviar a atenção" dos verdadeiros responsáveis pelo conflito que são, segundo ele, os países ocidentais e as autoridades de Kiev.
"Sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível chegar a uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral", ressaltou ele.
Também denunciou o empréstimo de 50 bilhões de dólares (263 bilhões de reais, na cotação atual) anunciado na quinta-feira pelo G7, que utilizará como garantia os juros gerados por 300 bilhões de euros (1,7 trilhões de reais) em ativos russos que foram congelados pelos aliados ocidentais.
"Os países ocidentais congelaram parte dos ativos e reservas cambiais da Rússia. E agora estão pensando em uma base jurídica para apropriar-se deles de maneira definitiva", declarou. "Apesar de todas as trapaças, roubo continua sendo roubo e não ficará impune", acrescentou ele.
Por fim, o mandatário revelou os objetivos dos primeiros dias de sua ofensiva, após sempre ter sustentado que não pretendia conquistar o território ucraniano.
Indicou que um deles era conquistar Mariupol, cidade portuária que esteve sob forte cerco em 2022, e que outro era forçar Kiev a entregar o controle de uma ponte terrestre no sul da Ucrânia para conectar a Rússia à península anexada da Crimeia.
Putin declarou que "não descartava" a concessão da soberania de Kiev sobre o sul do país, "desde que a Rússia tenha uma ligação terrestre sólida com a Crimeia".
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