O governo peruano anunciou nesta segunda-feira (17) que investigará denúncias de abuso sexual de quinhentos estudantes indígenas por parte de professores em uma região de selva, em meio à indignação contra dois ministros que tentaram abafar o escândalo.

"Os fatos devem ser investigados, estaremos com as vítimas. Rejeitamos todas as formas de abuso sexual", afirmou o presidente do Conselho de Ministros e porta-voz do governo, Alberto Adrianzén, durante um encontro com correspondentes da imprensa estrangeira.

"As vítimas terão que receber cuidados de saúde integrais a nível psicológico e caso tenham sido infectadas pelo vírus HIV", acrescentou.

Os abusos e violações datam de 2010, afetando meninas e adolescentes da etnia nativa Awajún que estudam em escolas públicas na província de Condorcanqui, na selva do norte do Peru, perto do Equador, e de quem as idades são desconhecidas.

"Os casos relatados são 524, são meninos e meninas [...] Peço às autoridades que vão ao local, isto é um holocausto", disse a presidente do Conselho de Mulheres de Awajún, Rosemary Pioc, à rádio RPP.

A dirigente já tinha revelado os casos no dia 30 de maio, quando se dirigiu às autoridades da Educação.

Contudo, as reações de alguns ministros, que atribuíram os abusos a "práticas culturais", despertou indignação na população.

"Se for uma prática cultural [...] exercer uma forma de construção familiar com as jovens, vamos ser muito cautelosos, mas também vamos exigir uma resposta da comunidade", disse no fim de semana o ministro da Educação, Morgan Quero.

A ministra da Mulher, Ángela Hernández, alimentou a polêmica ao declarar que "estas são, de fato, práticas culturais que devemos banir", recomendando também que adiassem as relações sexuais ou as praticassem com proteção.

"Dizer que estas são práticas culturais é endossar estas ações [...] A violação não é uma prática na nossa comunidade", respondeu nesta segunda-feira a líder nativa.

Segundo Pioc, "trata-se de atos cometidos nos últimos 14 anos em albergues [residências] estudantis".

Devido a estes casos, há 111 professores afastados das salas de aula, 72 absolvidos e quatro suspensos, acrescentou.

A Defensoria Pública instou nesta segunda-feira as autoridades a "divulgarem as ações" a favor das vítimas e também solicitou "a separação imediata dos professores".

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