As irmãs clarissas no norte da Espanha que mantêm um conflito aberto há um mês com o Vaticano, confirmaram nesta sexta-feira (21), enquanto um ultimato de seus superiores estava sendo cumprido, sua decisão "irreversível" de abandonar a igreja, abrindo o caminho para serem excomungadas. 

"Enviou-se um documento, via burofax" à arquidiocese de Burgos no qual "fazemos saber nosso unânime e irreversível posição" de abandonar a Igreja, anunciaram em um comunicado as freiras do convento de Santa Clara de Belorado, na região de Castela e Leão. 

Essa decisão é "fruto de madura, pensada e consciente reflexão", que foi "referendado por todas" as freiras, acrescentam no documento publicado pelas irmãs clarissas em sua conta no Instagram. 

Em 13 de maio, a comunidade de 16 irmãs que residem no convento de tijolos do século XV causou alvoroço ao anunciar que estava rompendo com a Igreja Católica em um "manifesto" de 70 páginas acompanhado de uma carta publicada nas redes sociais. 

A carta, assinada pela irmã Isabel de la Trinidad, madre superiora da pequena congregação, denunciou a "perseguição" a qual a comunidade, que há vários anos está envolvida em uma disputa imobiliária com sua hierarquia, seria vítima.

As freiras de Belorado também denunciaram um suposto "caos doutrinário" do Vaticano, que acusam de incorrer em "contradições" com sua "linguagem dupla e confusa", disseram que não reconhecem o papa Francisco e anunciaram que agora estão sob a autoridade de um sacerdote excomungado, Pablo de Rojas Sánchez. 

O religioso, fundador da Pia União de São Paulo Apóstolo, afirma ser membro do "sedevacantismo", corrente que considera hereges todos os papas que sucederam a Pio XII (1939-1958), razão pela qual acredita que atualmente não existe um Sumo Pontífice válido. 

Ele foi excomungado da Igreja Católica em 2019 pelo arcebispo de Burgos, Mario Iceta. 

Encarregado pelo Vaticano de resolver a questão, o arcebispo de Burgos primeiro fez apelos ao diálogo, mas, diante da recusa das freiras, ele finalmente pediu que elas comparecessem a um tribunal eclesiástico para confirmar sua decisão, punível com excomunhão. 

As freiras tinham até sexta-feira para comparecer.

Por fim, dez das 16 freiras estão envolvidas no processo de excomunhão, pois a Igreja decidiu excluir as freiras mais velhas, que eram consideradas vulneráveis.

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