A um mês dos Jogos Olímpicos, o interesse midiático em Paris é dominado pela crise política na França, provocada pela convocação antecipada das legislativas após a vitória da extrema direita nas eleições europeias. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu pela convocação após os maus resultados do seu partido em 9 de junho, que levaram a França a uma corrida eleitoral incerta que poderá terminar com a chegada da extrema direita ao poder, pela primeira vez no país desde a Segunda Guerra Mundial. 

Embora o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, tenha garantido que as eleições "não perturbarão os Jogos", a votação já ofuscou o evento esportivo na imprensa. 

Com a decisão de dissolver o Parlamento (após a extrema direita obter quase 40% dos votos nas eleições europeias), Macron fez uma aposta arriscada antes do evento olímpico que começa em 26 de julho, uma situação sem precedentes segundo os especialistas.

- "Proteger os Jogos de turbulências políticas" -

A prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, criticou a realização das eleições "pouco antes dos Jogos", o que traz "um grande aborrecimento". 

Ciente das tensões habituais em uma disputa eleitoral, a presidente da região de Paris, a conservadora Valérie Pécresse, pediu "uma trégua olímpica", e para "proteger os Jogos das turbulências políticas". 

Os Jogos tornaram-se um elemento eleitoral, que o presidente Macron espera que os franceses considerem na votação em dois turnos, em 30 de junho e 7 de julho. 

Candidato ao cargo de primeiro-ministro, o líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) Jordan Bardella garantiu que nada mudará na organização dos Jogos se vencer as eleições.

- Novo governo? -

A crise política surge também em um momento em que os franceses começavam a se interessar pelos Jogos, após a chegada da chama olímpica, no dia 8 de maio, a Marselha. 

O presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Tony Estanguet, tentou tranquilizar a todos, garantindo que "as principais decisões" já foram tomadas, embora a política monopolize a atenção midiática.

Mais do que a campanha, o que mais preocupa os organizadores de Paris-2024 é a situação na França após as eleições. 

"Se no dia 8 de julho for Bardella (o vencedor), haverá uma grande movimentação", reconheceram fontes políticas à AFP, referindo-se ao braço direito de Marine Le Pen, a quem Macron seria quase obrigado a nomear primeiro-ministro se vencer em 7 de julho. 

Segundo estas fontes, há dúvidas se o ministro do Interior, Gérald Darmanin, que preparou o dispositivo de segurança para o Paris-2024, continuará no cargo. 

"Haverá muitas situações para as quais deveremos nos mobilizar se o RN vencer", reconheceu uma fonte policial, que teme por distúrbios urbanos. 

No entanto, algumas vozes consideram que uma ascensão da extrema direita não afetaria o bom andamento da competição.

- "Jogos de 1936" -

"Não há razão para os Jogos correrem mal com um governo do RN", disse Guy Drut, ex-ministro francês dos Esportes e atual membro do COI. Ele lembrou que os Jogos de Munique, em 1972, continuaram apesar do ataque sangrento de um comando palestino contra a delegação israelense. 

As declarações de Drut, classificadas pelo COI como opinião pessoal, suscitaram críticas da organização do Paris-2024 e da ministra do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, que pode não estar no cargo em 26 de julho, na cerimônia de abertura. 

O ex-assessor do presidente François Mitterrand, Jacques Attali, criticou duramente a decisão de convocar eleições. 

"Considero é um escândalo. Era para ser os Jogos de 1924 (também realizados em Paris) e teremos os Jogos de 1936" (organizados pela Alemanha nazista), afirmou no jornal Libération. 

Attali, que foi um dos mentores de Macron, referiu-se aos Jogos de Berlim em 1936, que serviram de propaganda para a Alemanha nazista de Adolf Hitler. 

Assim, a incerteza política predomina em Paris, a pouco mais de 30 dias do início dos Jogos.

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