Fernando Sabag Montiel, ao centro da foto, nasceu em 1987 no Brasil, em São Paulo, e vivia na Argentina desde o início dos anos 1990 -  (crédito: LUIS ROBAYO / AFP)

Fernando Sabag Montiel, ao centro da foto, nasceu em 1987 no Brasil, em São Paulo, e vivia na Argentina desde o início dos anos 1990

crédito: LUIS ROBAYO / AFP

BUENOS AIRES, PE (FOLHAPRESS) - Com expectativas de se desenrolar por meses, começa nesta quarta-feira (25), em Buenos Aires, o julgamento de Fernando Andrés Sabag Montiel, 37, o brasileiro que havia anos vivia na Argentina e em 2022 tentou atirar em Cristina Kirchner, então vice-presidente.

 

Ele, que permanece detido, é acusado de tentativa de homicídio duplamente qualificado pela premeditação e pelo fato de que Cristina não pôde se defender. Se condenado, sua pena pode ir de 13 a 20 anos de prisão. Também estão no banco dos réus sua namorada, Brenda Elizabeth Uliarte, acusada de ser coautora, e Nicolás Gabriel Carrizo, ex-chefe deles e acusado de participar do plano.

 

 

O episódio ocorreu em 1º de setembro de 2022. Montiel tentou atirar em Cristina enquanto a então vice do peronista Alberto Fernández era aclamada por apoiadores nos arredores de sua casa no bairro portenho da Recoleta. A arma falhou.

 

 

O caso de grande repercussão levou a uma ampla manifestação nas ruas no dia seguinte ao ato contra o que muitos descreveram como um episódio grave de violência política. Ao jornal La Nacion a procuradora do caso disse que tentará qualificá-lo como feminicídio (crime de ódio contra as mulheres) ao longo do julgamento.

 

 

As equipes de defesa, por sua vez, afirmam que Montiel não é responsável por tentativa de assassinato porque a arma que utilizou para disparar na cabeça da ex-presidente não estava apta a disparos, uma vez que não estava montada adequadamente.

 

As audiências do caso devem ocorrer todas as quartas-feiras a partir desta semana. Neste primeiro dia serão apresentadas as acusações, e há expectativa de que Montiel e os demais acusados se defendam oralmente, ainda que possam pedir para fazê-lo posteriormente.

 

 

Depois de presa, Uliarte afirmou que era inocente e que Montiel a havia obrigado a participar da organização da tentativa de assassinato. Segundo ela, o namorado estaria ligado ao Revolución Federal, um grupo de radicais conhecido por escrachar líderes kirchneristas e cujo líder já falou nas redes sociais sobre tentar matar Cristina.

 

O brasileiro Montiel enviou à Justiça argentina uma carta em outubro passado na qual dizia, segundo a imprensa local: "Jamais fui violento com uma mulher, comente com CFK [as iniciais de Cristina Fernández Kirchner]".

 

Ele nasceu em 1987 no Brasil, em São Paulo, e vivia na Argentina desde o início dos anos 1990. Tinha antecedentes criminais e, depois de detido pelo ataque contra Cristina, foi também acusado de possuir e distribuir imagens e vídeos de conteúdos de exploração sexual infantil.

 

Um ano após o crime, ele e a namorada foram condenados a um ano de prisão por possuir um documento de identidade argentino que não pertencia a eles e foi descoberto em seu apartamento durante as buscas que seguiram a tentativa de atirar em Cristina.

 

Vendedores ambulantes, ele e a namorada vendiam nas ruas algodão-doce. Por isso a dupla e seu chefe também julgado foram apelidados de "a gangue do algodão-doce". A Justiça tenta entender se o grupo era uma espécie de organização criminosa e se há mais envolvidos.

 

A mãe de Montiel é argentina e seu pai, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya, já foi alvo de um inquérito da Polícia Federal em 2020 que exigiu sua expulsão do Brasil. Ele tinha passagens por diversos delitos, de furtos a falsificação de documentos. Segundo a imprensa argentina ele hoje vive na portuária Valparaíso, em seu país natal.