"Se fecham um lado, outro se abre", diz o venezuelano Jeison Chacín, após atravessar a selva de Darién, a perigosa rota para os Estados Unidos que o presidente panamenho José Raúl Mulino promete fechar, e a qual o chefe de Estado eleito visitará nesta sexta-feira (28), a três dias de assumir a presidência do país.
Chacín, de 26 anos, relata os episódios cruéis vividos na selva inóspita: "Vimos um caso em que uma menina de quatro anos foi estuprada e o pai queria dizer alguma coisa e atiraram nele. Ali acontece de tudo", contou.
Em busca do "sonho americano", Darién "é o sonho do inferno", disse ele no Centro de Recepção Temporária de Migrantes de Lajas Blancas, cerca de 250 quilômetros a leste da Cidade do Panamá.
Mulino, um advogado de direita de 65 anos que tomará posse na próxima segunda-feira (1º), após vencer as eleições de 5 de maio, irá ao centro de migrantes junto a vários de seus futuros ministros.
Em sua campanha eleitoral, o presidente eleito prometeu "fechar" Darién à migração, acrescentando posteriormente que realizaria deportações em massa.
"Vamos começar com ajuda internacional um processo de repatriação com todo o apreço aos direitos humanos. Para que quem quiser vir saiba (...) que quem chegar aqui será devolvido ao seu país de origem", garantiu após vencer as eleições.
No dia 11 de junho, os Estados Unidos anunciaram a extensão àquela vasta selva de uma unidade especializada no combate ao tráfico de pessoas criada em 2021, e que já atuou em Honduras, Guatemala, El Salvador e México.
- Colômbia diz "não" ao fechamento -
Esta selva, de 575 mil hectares, na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, se tornou um corredor para migrantes que tentam chegar aos Estados Unidos em busca de oportunidades de trabalho.
"A Colômbia obviamente não concordaria em fechar as fronteiras, e muito menos obviamente a fronteira de Darién porque vemos que, pelo contrário, o que temos para oferecer são mais saídas humanitárias para esta população que atravessa aquela zona", declarou há um mês o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo.
Em 2023, mais de 520 mil pessoas cruzaram esta rota, apesar de enfrentarem perigos como rios caudalosos, animais selvagens e grupos criminosos. Muitos morrem no caminho.
Em Lajas Blancas, as estradas são de terra e os migrantes dormem em barracões de madeira em colchões no chão e entre roupas penduradas. Do lado de fora, há banheiros compartilhados, uma pequena lavanderia e vários chuveiros improvisados.
Neste centro de migrantes, as pessoas recebem cuidados médicos e serviços básicos fornecidos pelo governo e por diversas organizações internacionais.
Eles chegam ao local de canoa, após serem detectados pelas autoridades panamenhas assim que cruzam a selva, uma viagem que dura de quatro a seis dias.
"É possível entender que como presidente (Mulino), ele cuida do seu país, mas é difícil fechar a fronteira porque também queremos avançar", diz a colombiana Angélica Páez à AFP.
"Se fecharem isto, as pessoas encontrarão outro lugar para passar. Este não será o fim para a migração", insistiu a jovem de 20 anos.
Desde o início de 2024, 200 mil migrantes — dois terços venezuelanos, o restante equatorianos, colombianos, chineses e haitianos — atravessaram a selva de Darién, um número ligeiramente superior ao mesmo período do ano passado.
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