Não parecia nem a sombra do homem acuado, hesitante, com falhas de raciocínio e frases desconexas ou incompletas. Depois de o desempenho desastroso no debate de quinta-feira (27/6), em Atlanta (Geórgia), ativar o modo pânico entre os correligionários do Partido Democrata, Joe Biden, 81 anos, resistiu às pressões para abandonar os planos de reeleição.
Um dos principais jornais dos EUA, o The New York Times, publicou editorial, nesta sexta-feira, sob o título "Para servir este país, o presidente Biden deveria deixar a corrida". "O presidente apareceu, na noite de quinta-feira, como a sombra de um grande servidor público. Ele se esforçou para explicar o que realizaria em um segundo mandato. Ele lutou para responder às provocações do senhor (Donald) Trump. (...) Mais de uma vez, ele se esforçou para chegar ao fim de uma frase."
No dia seguinte ao debate, durante comício na Carolina do Norte, o presidente tentou transmitir confiança. "Sei que não sou mais um jovem. Não caminho com tanta facilidade, não falo com tanta fluidez, não debato tão bem quanto antes, mas sei o que sei: como dizer a verdade", declarou. "Dou a vocês minha palavra. Não voltaria a me candidatar se não acreditasse, com todo o meu coração e minha alma, que posso fazer esse trabalho."
Biden disse saber a distinção entre o bem e o mal. "Sei como fazer esse trabalho. (...) Sei que, quando o derrubam, você volta a levantar", acrescentou o democrata. Mais do que um discurso voltado aos simpatizantes, as palavras do presidente tiveram o objetivo de aplacar a desconfiança dos próprios estrategistas da campanha democrata.
Em Nova York, Biden e o cantor britânico Elton John inauguraram um monumento em alusão ao 55º aniversário dos tumultos provocados pela invasão policial ao Stonewall II, um bar LGBTQIAPN+. O incidente marca o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+.
O republicano e ex-presidente Donald Trump, 78, seu potencial adversário nas eleições de 5 de novembro, afirmou não crer em uma desistência de Biden e celebrou uma "grande vitória" no debate. "Muitas pessoas dizem que, após a performance da noite passada, Joe Biden está saindo da disputa. Mas a verdade é que eu realmente não acredito nisso", declarou, durante um comício na Virgínia. "Apesar de o corrupto Biden ter passado a semana inteira em Camp David descansando, trabalhando, estudando — ele estudou muito. Ele estudou tanto que não sabia o que diabos estava fazendo", ironizou Trump.
Robert Matthew Howard, professor de ciência política da Universidade Estadual da Geórgia, em Atlanta, acredita que o pânico instalado entre os democratas está associado à idade de Biden e ao fato de que muitos formuladores de decisão, dentro do partido, estão profundamente influenciados por publicações, como o NY Times, que tornaram a questão etária algo grande. "Nenhum republicano criticou Trump, que, na melhor das hipóteses, mostrou algum declínio cognitivo", disse ao Correio.
"Seria o caos se Biden se retirasse. A última vez que isso ocorreu foi em 1968. Isso resultou em uma Convenção Nacional Divisiva e rachada entre Hubert Humphrey, vice de Lyndon Johnson, e os simpatizantes de Robert Kennedy, principalmente em relação à Guerra do Vietnã", advertiu. Cerca de 48 milhões de telespectadores assistiram ao debate. Pesquisa do instituto YouGov mostra que 49% dos americanos creem que Biden deveria ser substituído. Outra sondagem, da TV CNN, indica que 67% acham que Trump venceu o debate.