"É uma emoção que leva às lágrimas", declarou María de los Ángeles Gordillo, uma indígena maia tojolabal de 37 anos, que foi comemorar com milhares de mexicanos na Praça do Zócalo, na Cidade do México, a eleição de Claudia Sheinbaum como a primeira presidente da história do país.

"Estou aqui celebrando este grande momento histórico de nosso país e sobretudo das mulheres que carregam estas desigualdades na pele", afirmou no Zócalo, a principal praça deste país assolado pela violência de gênero, onde em média 10 mulheres são assassinadas diariamente.

Sheinbaum, de 61 anos e candidata do partido de situação Morena, obteve entre 58% e 60% dos votos, mais de 30 pontos à frente de sua adversária de centro-direita Xóchitl Gálvez, que registrou entre 26% e 28%, segundo uma apuração preliminar do Instituto Nacional Eleitoral (INE).

Após o discurso triunfante de Sheinbaum na praça, era possível ver várias mulheres usarem faixas presidenciais de papelão com a foto de Sheinbaum e a legenda "Chegamos todas aqui", repetindo o slogan da presidente eleita durante sua campanha.

"Há muito a fazer, mas isto é o começo, o fato de haver uma mulher presidente significa que estamos avançando para mudar estas tristes realidades porque temos muitas desaparecidas", acrescentou Gordillo.

Cerca de 450 mil pessoas foram assassinadas e dezenas de milhares estão desaparecidas desde 2006, quando o governo se juntou aos militares no combate ao crime organizado.

- "Inspiração" -

Ex-prefeita da Cidade do México, Sheinbaum assumirá em outubro a presidência de um país com longa tradição sexista e de violência contra as mulheres. Além disso, enfrentará outros questões significativas como a disparidade salarial. 

Milhões de mulheres foram às ruas para protestar contra a violência de gênero. Casos icônicos como a morte violenta da jovem Debahni Escobar em 2022 geraram indignação em todo o país.

"É lindo, é uma inspiração ver que em um país tão machista, uma mulher chegue à posição mais elevada. Enche o coração de orgulho", disse María Fernanda Vela, de 27 anos.

"Sei que Claudia, como muitas, tem sofrido assédio e falta de respeito por ser mulher. Sei que vai haver mudança em muitos aspectos", declarou ela, que participou da comemoração com o marido e seu filho de três anos.

Para muitos, o nome de Sheinbaum está associado ao de Andrés Manuel López Obrador, que se aproxima do final de seu mandato com um índice de 66% de aprovação. Segundo analistas, sua vitória está ligada ao desgaste do presidente em exercício.

Os homens também reconheceram esta conquista sem precedentes. Jesús Martín Uribe, de 59 anos, afirmou que com a vitória de Sheinbaum, a igualdade de gênero atingiu níveis nunca vistos. 

"Anos atrás, as mulheres não podiam votar no México. Agora uma presidente faz história e muda o rumo do nosso país", disse ele, acompanhado pela esposa e o neto, enquanto outros apoiadores cantavam o hino nacional junto com Sheinbaum. 

yug/lbc/axm/pc/yr

compartilhe