Os líderes das potências ocidentais celebram nesta quinta-feira (6) o aniversário de 80 anos do Desembarque na Normandia, que abriu o caminho para libertar a Europa da ocupação nazista, mas com o pensamento voltado para a guerra na Ucrânia.

O presidente francês Emmanuel Macron convidou os líderes das potências aliadas na Segunda Guerra Mundial: seu homólogo americano Joe Biden, o rei britânico Charles III e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, cujas tropas desembarcaram em 6 de junho de 1944.

"É com o mais profundo sentimento de gratidão que lembramos deles e de todos aqueles que serviram naquele momento crítico", disse Charles III na cidade francesa de Ver-sur-Mer, onde prestou homenagem aos soldados aliados e aos civis franceses que morreram, assim como à coragem dos integrantes da resistência francesa.

"As nações livres devem unir-se para se oporem à tirania", disse.

O presidente francês também convidou quase 200 veteranos, os últimos sobreviventes das dezenas de milhares de soldados que arriscaram suas vidas nas praias e falésias da Normandia, sob intenso contra-ataque alemão.

"Não estou particularmente orgulhoso do que fiz, mas se tivesse que fazer de novo, eu faria. Estou feliz por nosso sacrifício para que outros pudessem ter uma boa vida", disse o britânico John Mines, de 99 anos, à AFP.

Macron também convidou para a cerimônia em Omaha Beach os líderes das então potências inimigas – o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente italiano Sergio Mattarella – e o chefe de Estado ucraniano, Volodimir Zelensky, um gesto extremamente simbólico.

A Rússia é a grande ausente. Apesar do preço alto que a União Soviética pagou para a vitória final (27 milhões de mortes de civis e militares), o presidente russo Vladimir Putin não foi convidado, ao contrário do que aconteceu há 10 anos, devido à invasão da Ucrânia, iniciada em 2022.

"Esta guerra de agressão é uma traição às mensagens do Dia D", declarou Macron ao programa de televisão Quotidien para justificar a ausência de convite ao homólogo russo.

As potências ocidentais desejam expressar desta maneira o apoio a Kiev. No momento em que Paris e Kiev negociam o envio de instrutores militares franceses à Ucrânia, Zelensky deve apresentar as necessidades do seu país a Biden e Macron durante sua visita até sexta-feira.

Os três dias de cerimônias na França começaram na quarta-feira em Plumelec, com uma homenagem aos integrantes da resistência. Macron afirmou que está convencido de que os jovens estão "dispostos ao mesmo espírito de sacrifício que os mais velhos".

- "Lembrar, valorizar" -

O presidente francês, que alertou em abril que a Europa "pode morrer" com a ofensiva russa e não descartou o envio de tropas aliadas à Ucrânia, aproveitou as cerimônias do Dia D para traçar um paralelo com o atual conflito ucraniano.

"Se durante várias décadas a recordação dos erros do passado sustentou a firme vontade de fazer todo o possível para evitar a explosão de um novo conflito mundial aberto, hoje não é mais assim", afirmou o papa Francisco em uma carta divulgada na quarta-feira.

O rei Charles III, cuja visita à Normandia representa sua primeira viagem ao exterior desde que recebeu o diagnóstico de câncer, também iniciou as celebrações na quarta-feira no porto britânico de Portsmouth, fundamental na preparação do Desembarque há 80 anos.

"Ao agradecermos por todos aqueles que deram tanto para conquistar a vitória cujos frutos desfrutamos até hoje, devemos nos comprometer mais uma vez a sempre lembrar, valorizar e homenagear aqueles que serviram naquele dia", disse Charles.

Biden também busca, com a sua visita de Estado até domingo, promover os Estados Unidos como um país que defende a democracia e as alianças internacionais, um contraponto a seu rival eleitoral Donald Trump.

Em uma operação mantida em segredo para os alemães, os aliados desembarcaram há 80 anos em cinco praias ao longo da costa da Normandia: Omaha e Utah para os americanos, Gold e Sword para os britânicos e Juno para britânicos e canadenses.

O desembarque das forças aliadas, apoiado por operações aerotransportadas que lançaram tropas de paraquedas diretamente no solo ocupado, foi a maior operação naval da história em número de navios mobilizados e tropas participantes.

Ao final do que passou a ser conhecido como "o dia mais longo", 156 mil soldados aliados e 20 mil veículos chegaram ao noroeste da França ocupado pelos nazistas, apesar dos tiros e ataques dos aviões alemães.

A operação marcou o início do fim da ocupação nazista da Europa Ocidental, mas ainda foram necessários meses de combates intensos e fatais até a vitória final contra o regime de Adolf Hitler.

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