Parentes de presidiários protestaram, nesta quarta-feira (12), em Caracas, para apoiar a greve de fome realizada desde o fim de semana em cerca de 19 centros de detenção na Venezuela em meio a denúncias de corrupção, atraso processual, superlotação e acesso limitado a alimentos.
"Justiça!, Justiça!, Justiça!", "Queremos respostas", "Não vamos sair daqui, ninguém se mexe", gritavam os cerca de cem manifestantes concentrados nos arredores do Palácio de Justiça, no centro de Caracas.
"Queremos os direitos humanos para nossos familiares", disse à AFP María Alejandra Espinoza, cujo filho está preso no presídio Fénix, no estado de Lara (oeste).
"A greve de fome está forte, forte, (meu filho está) desmaiado já porque lá é uma precária (precariedade) horrível, que não é de agora, lá morrem à míngua porque a visita é muito longe", disse Espinoza, de 45 anos.
A mulher, que mora em Caracas, a cerca de 400 km do presídio para onde foi transferido seu filho, assinala que aguarda há três anos sua realocação. "Tenho três assinaturas (ordens) de transferência", mas nenhuma se concretizou, lamenta.
A ONG Observatório Venezuelano de Prisões informou que a greve de fome, que começou no domingo, 9 de junho, ocorre em "19 presídios e mais de 30 prisões policiais".
"Protestamos contra o atraso processual.... São muito mais coisas, eles têm seus direitos violados, passam fome", denunciou, por sua vez, Sandy Rondón, de 43 anos, cujo filho está preso há quatro anos sem julgamento.
"Não deixem que nossos filhos, que nossos maridos morram de fome lá dentro pela necessidade e pelos maus-tratos que estão sofrendo", clamou Rondón.
Sem mencionar a greve de fome, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, designou na terça-feira o deputado Julio García Zerpa como novo ministro de Serviços Penitenciários para "acabar com a corrupção" dentro do sistema carcerário.
García Zerpa, que substituiu Celsa Bautista, que estava no cargo desde fevereiro de 2023, disse que no país há 44 centros prisionais e "mais de 400 centros preventivos ou delegacias".
Defensores dos direitos humanos denunciam que nestes centros de detenção preventiva são mantidos presos em condições de superlotação, inclusive durante anos, enquanto por lei só deveriam permanecer por poucos dias.
A população carcerária na Venezuela é estimada em cerca de 54.000 detentos, segundo dados oficiais.
Várias prisões em greve sofreram intervenção do governo em 2023, na qual foram transferidos cerca de 9.000 detentos de sete centros prisionais. Em muitos casos, foram levados para presídios a centenas de quilômetros dos tribunais onde tramitam seus casos.
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