À luz da intensificação dos ataques a palestinos na Cisjordânia ocupada, ONGs acusam o Exército israelense de apoiar ativamente a violência de colonos judeus, também incentivados por ministros de extrema direita. 

Os colonos foram responsáveis por 1.096 ataques no território entre 7 de outubro e 31 de março, contabilizou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, em sua sigla em inglês).

São seis ataques diários em média, contra três antes de 7 de outubro. Em 2022, foram dois.

Os atos violentos de colonos contra palestinos bateram o recorde em 2023, segundo a ONG israelense de defesa dos direitos humanos Yesh Din.

Desde o início da guerra em Gaza em 7 de outubro, 537 palestinos morreram nas mãos de soldados ou colonos israelenses na Cisjordânia, segundo a Autoridade Palestina, a entidade que administra parte dos territórios palestinos na Cisjordânia desde 1994.

Do lado israelense, 14 pessoas morreram em atentados palestinos, segundo dados oficiais do governo de Israel.   

Os ataques tem testemunhos similares: colonos armados, frequentemente vestindo os mesmos trajes que os soldados, agridem civis palestinos, queimam casas e carros, roubam gado, às vezes, diante de militares passivos. 

Em 13 de abril, centenas de colonos atacaram Duma, cidade palestina no centro da Cisjordânia, e esfaquearam um morador, após as autoridades israelenses anunciarem que encontraram o corpo de um adolescente israelense no assentamento de Malajei HaShalom, perto de Duma. 

O Exército israelense anunciou em 22 de abril a prisão de um habitante de Duma, acusado do assassinato do jovem de 14 anos. 

- "Colonos uniformizados" -

Durante o ataque de 13 de abril, "as forças israelenses estiveram presentes em Duma para garantir a segurança dos colonos e protegê-los", disse à AFP Suleiman Dawabsheh, chefe do conselho desta cidade de milhares de habitantes. 

Um porta-voz militar israelense afirmou que a missão dos soldados na Cisjordânia é "proteger os bens materiais e as vidas dos habitantes além de dispersar os confrontos". 

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou às forças israelenses em 16 de abril a "cessarem imediatamente sua participação ativa e o apoio" aos ataques perpetrados por colonos e instou Israel a "prevenir novas agressões e denunciar os responsáveis". 

Excluindo os que vivem em Jerusalém Oriental, há mais de 490 mil colonos na Cisjordânia ocupada, em assentamentos que a ONU considera ilegais segundo o direito internacional, e entre três milhões de palestinos. 

O processo de colonização tem se mantido em todos os governos desde que Israel conquistou a Cisjordânia em junho de 1967. 

Na Cisjordânia ocupada, "distinguir os colonos dos soldados tornou-se muito difícil", disse à AFP Joel Carmel, chefe da ONG anti-ocupação israelense Breaking the Silence, composta por soldados aposentados. 

Desde 7 de outubro, "vemos colonos em uniformes militares" e a violência é "cada vez mais extrema" na Cisjordânia, explica Ehud Krinis, um ativista israelense que ajuda os palestinos na região de Hebron. 

A ONG Human Rights Watch (HRW), dedicada à defesa e promoção dos direitos humanos, acusa Israel de ser responsável pelo aumento da violência dos colonos desde 7 de outubro. 

- "Participação ativa" -

A HRW também investigou cinco ataques cometidos por colonos em cinco cidades palestinas entre outubro e novembro de 2023. 

"As evidências mostram que colonos armados, com a participação ativa de unidades militares, bloquearam estradas e atacaram comunidades palestinas em diversas ocasiões: prenderam, agrediram e torturaram habitantes, expulsando-os das suas casas e terras", concluiu a ONG em abril. 

O Exército israelense disse à AFP que analisa "todas as reclamações sobre o comportamento dos soldados que não cumprem as ordens". 

Mas, segundo Joel Carmel, colonos e soldados violentos são condenados "raramente": "o Ministério Público e a maior parte do aparelho governamental são concebidos para protegê-los".

mby-lba/ayv/mj/feb/amp/avl/zm/jc/aa

compartilhe