A ascensão do partido francês de extrema direita Regrupamento Nacional (RN) é o resultado de "preocupações econômicas" e não tanto de "identitárias", diz à AFP Gabriel Zucman, um renomado especialista em questões de desigualdade, que chama a "reescrever as regras da globalização." 

"Ao analisarmos o comportamento eleitoral dos franceses, observamos que, na realidade, o que os preocupa não são questões identitárias, mas sim problemas econômicos e sociais, relacionados a salários, poder de compra, inflação", explica o economista francês a pouco mais de duas semanas do primeiro turno das eleições legislativas antecipadas que poderão levar o partido de Marine Le Pen ao poder. 

Segundo Zucman, os responsáveis pela ascensão da extrema direita francesa, que venceu as eleições europeias na França em 9 de junho, são os líderes dos partidos tradicionais. 

"Na França, como em outros países, houve cortes maciços na educação pública e nos serviços de saúde, além das infraestruturas de transportes", acrescentou.

Isso se traduziu em um "profundo sentimento de abandono e insatisfação com os poderes públicos", afirmou professor da Escola de Economia de Paris e da Universidade de Berkeley, na Califórnia. 

A esquerda tem parte da responsabilidade, uma vez que, segundo Zucman, não tem sido capaz de "explicar concretamente como organizar a globalização para que não beneficie exclusivamente as multinacionais e seus proprietários, mas também a classe média e trabalhadora", disse o economista, que foi conselheiro dos candidatos presidenciais democratas Bernie Sanders e Elizabeth Warren nos Estados Unidos. 

"O único partido que parece ter respostas concretas" aos olhos dos eleitores decepcionados "é o RN". 

Após os resultados das eleições europeias de 9 de junho, nas quais o RN obteve 31,5% dos votos, o presidente francês Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional, a câmara baixa, e convocou novas eleições legislativas para 30 de junho e 7 de julho.

- Impostos aos mais ricos -

Gabriel Zucman, fundador do Observatório Fiscal da União Europeia, foi convidado a palestrar na cúpula do G20 deste ano sobre um possível imposto aos mais ricos. 

Segundo o economista de 37 anos, este imposto poderia gerar 250 bilhões de dólares (1,34 trilhão de reais) por ano mediante um imposto sobre o patrimônio destas pessoas. 

Na França, e em outros países, "é exigida uma maior justiça tributária, de maior progressividade, e a abolição dos privilégios fiscais às grandes fortunas", destacou. 

Zucman também é membro da Icrit, organização internacional cujo objetivo é promover o debate sobre reformas fiscais corporativas. 

Em 2021, cerca de 140 países celebraram, sob a supervisão da OCDE, um acordo histórico que prevê a aplicação de tais impostos. 

"Uma grande parte do meu trabalho, especialmente no contexto das discussões internacionais no G20, é fornecer soluções concretas e reescrever as regras da globalização" para "partilhar seus lucros de forma equitativa". 

"Há muitas formas confiáveis e concretas de responder à necessidade e à demanda por justiça social, mas devemos responder de forma inteligente e que funcione. Só então veremos os votos do RN começarem a despencar", concluiu Zucman.

alb/ak/amp/avl/jc

compartilhe