O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, dará um novo passo para tentar cumprir sua promessa de paz total: delegados do governo começarão a negociar na segunda-feira (24) em Caracas com representantes da dissidência das Farc conhecida como 'Segunda Marquetalia'.

Os diálogos com o grupo liderado pelo ex-número dois da guerrilha extinta, conhecido como Iván Márquez, que foi um dos maiores líderes ideológicos da organização rebelde, são a terceira aposta de paz do presidente de esquerda, que considera que a solução para o conflito armado de seis décadas na Colômbia está nos acordos.

Em 2022, o governo Petro iniciou negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN) em Caracas, Cidade do México e Havana. Além disso, estabeleceu uma mesa de diálogo com o Estado Maior Central (EMC), outra facção de desertores do acordo de paz com as Farc, assinado em 2016.

Não foram divulgados detalhes da agenda da reunião em Caracas com a 'Segunda Marquetalia', apenas um documento assinado em 5 de junho na capital venezuelana que destaca a necessidade de "promover mudanças e reformas democráticas para a paz em que as populações e territórios sejam a prioridade, fortalecendo a mobilização social", segundo o governo.

O documento cita a criação de comissões de negociação para obter uma "desescalada do conflito, a construção de territórios de paz", assim como o atendimento das vítimas.

"Não se identifica que o pseudônimo Iván Márquez ou a Segunda Marquetalia estejam buscando uma via para a política", explicou à AFP Francisco Javier Daza, pesquisador da Fundação Paz e Reconciliação (PARES).

Ao contrário das negociações que resultaram no acordo de 2016, esta instância "busca uma desescalada da violência nos territórios em que opera: a ideia de chegar ao poder, o poder estatal, não aparece na agenda do que vai ser negociado".

Antes do início do diálogo, o comandante das Forças Militares da Colômbia, general Helder Giraldo, antecipou "aproximações" para alcançar um cessar-fogo bilateral.

Em 1º de janeiro de 2023, Petro, um ex-guerrilheiro da extinta M-19, anunciou uma trégua por parte das forças do Estado que durou seis meses.

- "Velha guarda" -

O documento de Caracas tem a assinatura de Iván Márquez, que era o segundo homem mais importante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) quando esta guerrilha assinou a paz para virar um partido político.

Luciano Marín, seu nome verdadeiro, foi o principal negociador dos rebeldes e permaneceu no processo por alguns anos após a assinatura, mas desertou e em 2019 reapareceu em um vídeo no qual anunciou uma nova revolução armada.

Em 2023, a imprensa local especulou sobre sua morte na Venezuela após um atentado. O governo Petro anunciou que ele estava no país se recuperando dos ferimentos.

No dia 11 de maio, Márquez reapareceu em um vídeo e expressou apoio a Petro, com quem acertou em fevereiro o início das negociações.

Márquez é "um dos poucos chefes da velha guarda que restam, fortes bases ideológicas", acrescentou Daza. E isso "tem um peso e pode contribuir para que a negociação seja muito mais rápida, muito mais eficaz" do que as que o governo abriu com o ELN e o EMC.

- Política -

A 'Segunda Marquetalia' tem quase 1.660 combatentes, segundo cálculos da inteligência militar. Analistas consideram que é uma guerrilha frágil em comparação com as dissidências do Estado Maior Central, liderado pelo homem conhecido pelo pseudônimo Iván Mordisco, que não assinou a paz em 2016, e com o Exército de Libertação Nacional.

O governo Petro conversa com o EMC desde outubro do ano passado, antes da divisão do grupo em duas alas em abril. A parte dos guerrilheiros sob o comando de Mordisco abandonou o processo, enquanto os outros 50% permanecem no diálogo.

A estratégia é alvo de críticas. "É interpretado como um sinal de que o governo está sendo permissivo com os grupos armados ou com os desertores da paz", afirmou Daza.

Entre os céticos está o senador Humberto de la Calle, principal negociador do governo do ex-presidente Juan Manuel Santos (que venceu o Nobel da Paz) no acordo de 2016.

Durante a semana, ele destacou a possibilidade de Márquez voltar a não cumprir sua palavra, como aconteceu depois da assinatura do acordo de paz com as Farc.

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