A Organização dos Estados Americanos (OEA) iniciou nesta quarta-feira (26), em Assunção, sua assembleia geral, marcada por uma tentativa de golpe de Estado na Bolívia e por novas divergências com a Argentina de Javier Milei, que contestou menções aos direitos humanos e à igualdade de gênero.

A OEA "não vai tolerar nenhuma forma de violação da ordem constitucional legítima na Bolívia nem em nenhum outro lugar", disse o secretário-geral da organização, Luis Almagro, ao condenar a ação do Exército boliviano que acontecia em La Paz.

O presidente anfitrião, Santiago Peña, também condenou "energicamente qualquer tentativa de subversão da democracia sagrada", e disse que seu país e o bloco apoiam "o governo legítimo do companheiro Luis Arce".

O início da reunião de cúpula da organização girou em torno, ainda, de divergências entre os representantes, após a Argentina rejeitar projetos de resolução ligados à democracia e ao meio ambiente e que mencionavam a necessidade de uma perspectiva de gênero e étnica relacionada aos assuntos discutidos no encontro.

A embaixadora argentina junto à OEA, Sonia Cavallo, questionou, entre outras coisas, um parágrafo da resolução sobre o Haiti que mencionava a necessidade de combater a violência sexual e de gênero, ao que o embaixador americano, Frank Mora, reagiu argumentando que esse é "um problema sério e muito difundido" no país caribenho.

Consultado sobre a posição da Argentina, Almagro afirmou na terça-feira que sempre há "grandes dificuldades para se chegar a acordos" e que "a discussão deve ser plural e diversificada".

A diplomacia argentina enfrenta ainda outra polêmica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que não falará com Milei até que ele peça "desculpas" pelas "bobagens" que disse. A presidência argentina respondeu pouco depois que Milei "não cometeu nada do que precise se arrepender".

Milei chamou Lula de "corrupto" e "esquerdista selvagem" antes de assumir o poder em dezembro do ano passado.

- Não serem 'ingênuos' –

A 54ª assembleia geral da OEA, que acontece até sexta-feira na sede da Conmebol em Assunção, reúne 23 ministros das Relações Exteriores da região focados em alinhar posições sobre a defesa da democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento.

Este é o último ano de Luis Almagro como secretário-geral da OEA, após dois mandatos. Santiago Peña aproveitou a abertura do encontro para propor a candidatura do seu chanceler, Rubén Ramírez Lezcano, para o período 2025-2030.

Entre as prioridades da reunião está a Venezuela, cujo governo deixou formalmente a organização em 2019 após solicitar a saída dois anos antes, acusando o organismo de ser um "espaço de dominação imperial".

O embaixador Mora indicou na semana passada que os países membros não poderiam ser "ingênuos sobre a situação na Venezuela", onde aumenta o número de opositores presos.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, buscará renovar seu mandato por mais seis anos em 28 de julho, em eleições amplamente monitoradas pela comunidade internacional. A maioria das pesquisas indica vantagem para a oposição liderada por María Corina Machado e seu candidato, Edmundo González.

Também estão na agenda a situação da Nicarágua, onde Daniel Ortega governa há 17 anos após sucessivas vitórias em eleições contestadas pela comunidade internacional, e o Haiti, imerso em uma crise profunda.

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