Marte é atingido por centenas de meteoritos todos os anos, cinco vezes mais do que se acreditava até agora, de acordo com um estudo publicado nesta sexta-feira (28) com base em gravações sísmicas.

Até agora, a frequência destes impactos era estimada com modelos que combinavam a observação das crateras causadas por meteoritos na Lua com fotos da superfície de Marte tiradas por sondas em órbita.

Estes modelos foram ajustados para as características do planeta vermelho, muito maior do que a Lua.

Marte recebe muito mais meteoritos porque está mais próximo do principal cinturão de asteroides do Sistema Solar. Além disso, quase não possui atmosfera — é 100 vezes mais fina que a da Terra —, então não pode contar com este escudo protetor para desintegrar alguns dos meteoritos.

"Parece mais eficaz ouvir os impactos do que tentar vê-los se quisermos compreender com que frequência ocorrem", disse em comunicado o professor Gareth Collins, do Imperial College London, coautor do estudo publicado na revista Nature Astronomy.

O estudo foi realizado com uma equipe internacional, liderado por pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) e do Imperial College London.

Os registros foram feitos com o sismógrafo SEIS (Experimento Sísmico para Estrutura Interior), instrumento realizado sob supervisão da agência espacial francesa (CNES). 

A sonda InSight, da Nasa, instalou o sismógrafo em novembro de 2018 em Elysium Planitia, uma vasta região plana de Marte, possibilitando ouvir pela primeira vez o que está acontecendo no planeta.

- Ouvir cada impacto -

O objetivo inicial era medir a atividade interna de Marte e possíveis fenômenos sísmicos. 

Estes dados permitiram à equipe de pesquisadores determinar que o planeta é impactado por entre 280 e 360 meteoritos todos os anos, criando crateras com pelo menos oito metros de diâmetro.  

"Esta taxa é cinco vezes maior que o número estimado a partir de imagens tiradas apenas em órbita", explica Geraldine Zenhäusern, pesquisadora do ETH, em comunicado de sua instituição. 

Identificar pequenas crateras de meteoritos a partir de uma sonda em órbita é ainda mais difícil em Marte visto as frequentes tempestades de areia.

"As novas crateras são visíveis em terreno plano e poeirento, mas este tipo de terreno cobre apenas metade do planeta”, diz Zenhäusern. Logo, a vantagem do sismógrafo era "poder ouvir todos os impactos dentro do alcance da sonda".

A equipe científica identificou um tipo específico de ondas acústicas que se propagam na superfície do planeta quando um meteorito cai. O sismógrafo detecta os chamados Marsquake-VF, que permitem estimar o diâmetro de uma cratera e sua distância da sonda. 

Já o número de crateras criadas em ano em um determinado raio em torno da sonda é então calculado e ajustado para a escala do planeta.

"É o primeiro estudo deste tipo que determina com dados sismológicos a frequência dos impactos de meteoritos na superfície de Marte", afirma o professor do ETH Domenico Giardini. Alguns dados, que segundo ele, "devem ser levados em consideração no planejamento de futuras missões a Marte".  

Aproximadamente todos os meses, um meteorito atinge Marte e cria uma cratera de pelo menos 30 metros de diâmetro.

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