Pelo menos 200 candidatos a deputado que passaram para o segundo turno das eleições legislativas na França, previsto para domingo (7), retiraram suas candidaturas, em um amplo esforço da coalizão de esquerda e do partido no poder para impedir uma maioria absoluta da extrema direita.

"O único que pode obter a maioria absoluta é o Reagrupamento Nacional (RN). Isto deve ser evitado", declarou esta terça-feira (2) o primeiro-ministro de centro-direita, Gabriel Attal, em referência ao partido de extrema direita de Marine Le Pen.  

Apesar da mensagem de Attal, a aliança de centro-direita do presidente Emmanuel Macron está dividida sobre esta estratégia de construir uma "frente republicana" contra a extrema direita, juntamente com a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP). 

Esta estratégia faz com que cada bloco retire os seus candidatos com menores possibilidades de vencer a extrema direita no segundo turno, quando dois candidatos "republicanos" também se classificarem, para assim concentrarem os votos.

Os franceses escolhem os 577 deputados em círculos eleitorais com um sistema majoritário de dois turnos. No último domingo, a alta participação e a dispersão do voto abriu o caminho para mais de 300 segundos turnos com três candidatos ou mais. 

Segundo uma contagem da AFP, 118 da NFP se retiraram, assim como 78 da aliança de Macron, três do partido de direita Os Republicanos (LR) e uma candidata independente. O prazo para confirmar as candidaturas no segundo turno termina às 18h (13h em Brasília). 

Entretanto, alguns membros da aliança no poder rejeitaram a retirada de suas candidaturas, considerando que A França Insubmissa (LFI, esquerda radical), que faz parte do NFP juntamente com socialistas, ambientalistas e comunistas, é tão perigosa como a extrema direita. 

"Deixar os dois extremos frente a frente é muito perigoso", escreveu na segunda-feira na rede social X a atual ministra de Autoridades Locais e Regionais, Dominique Faure, que acabou retirando sua candidatura nesta terça a "pedido" de Macron e Attal.

O candidato ultradireitista a primeiro-ministro, Jordan Bardella, denunciou, por sua vez, "alianças de desonra" e pediu aos eleitores uma maioria absoluta "frente à ameaça existencial para a nação francesa" que, em seu julgamento, a coalizão de esquerda representa. 

- Rumo à uma "grande coalizão"? -

Diante a possibilidade de que algum dos outros blocos consiga a maioria absoluta na Assembleia Nacional (Câmara Baixa), e o RN não conseguir, a ideia de uma "grande coalizão" começa a surgir no debate público na segunda economia da União Europeia. 

Nesta terça, o líder da LFI, Manuel Bompard, descartou sua participação em uma possível grande coalizão com a aliança de Macron e fez um apelo ao seu governo para revogar a impopular reforma da Previdência aprovada em 2023 se quiser "dar um passo" em direção à esquerda. 

O RN e seus aliados venceram o primeiro turno das eleições legislativas de 30 de junho com um terço dos votos, seguidos pela NFP, com 28%, e da coalizão no poder, com 20%. 

A ascensão da extrema direita, pela primeira vez desde que a França se libertou da ocupação da Alemanha nazista, acrescentaria à UE um novo país governado por esta corrente, como a Itália.

Aliados franceses, como Espanha, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, e rivais como a Rússia, garantiram que acompanham de perto as eleições, o que poderá obrigar Macron, cujo mandato termina em 2027, a compartilhar o poder.

Isto poderia enfraquecer sua política de apoio à Ucrânia. Embora o RN, cujos detratores a consideram próxima da Rússia de Vladimir Putin, assegure que apoia Kiev e que também quer evitar uma escalada com Moscou.

Nesta terça, Le Pen alertou contra um "golpe de Estado administrativo" de Macron que, perante uma possível coabitação, consideraria fazer várias nomeações na administração nesta semana, como de autoridades policiais.

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