O recém-nomeado ministro britânico das Relações Exteriores, David Lammy, é um advogado descendente de escravos que tem entre seus amigos o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e defende um "realismo progressista" em questões diplomáticas.
Lammy, de 51 anos, foi nomeado pelo primeiro-ministro Keir Starmer para liderar o Foreign Office, após a vitória esmagadora do Partido Trabalhista no domingo, que pôs fim a 14 anos de governos conservadores.
Em um discurso recente, quando já se vislumbrava como futuro ministro, este político nascido em Londres, conhecido por sua franqueza, deixou claro que a história de seus antepassados, escravos na Guiana, influenciaria sua abordagem durante o mandato.
"Levarei muito a sério a responsabilidade de ser o primeiro ministro das Relações Exteriores descendente de escravos", afirmou.
Responsável pelos assuntos internacionais no Partido Trabalhista nos últimos dois anos, Lammy realizou mais de 40 viagens ao exterior, durante as quais desenvolveu uma visão diplomática baseada em um modelo que descreve como "realismo progressista".
"Encarar o mundo como ele é, não como gostaríamos que fosse, mas acreditar que podemos construir um futuro para o Reino Unido enquanto também realizamos conquistas para o mundo", resume Lammy explicando seu dogma.
Lammy combina a abordagem pragmática do ministro das Relações Exteriores mais famoso do Partido Trabalhista, Ernest Bevin, com o idealismo ético de Robin Cook, que também foi chanceler.
Bevin participou da criação da OTAN após a Segunda Guerra Mundial, enquanto Cook supervisionou intervenções bem-sucedidas nos anos 90 em Kosovo e Serra Leoa, antes de deixar o governo de Tony Blair devido à invasão do Iraque em 2003.
- Abandonado pelo pai -
Segundo Lammy, a diplomacia britânica "precisa redescobrir a arte de uma grande estratégia" após a dolorosa saída do país da União Europeia em 2020.
Lammy defende uma cooperação mais estreita com os outros 27 países da União Europeia, apoio contínuo à Ucrânia e a criação de um Estado palestino assim que as condições para a paz permitirem.
Nascido em Londres em 1972, depois que seus pais emigraram para o Reino Unido, a vida de David Lammy foi marcada pela ausência do pai, que deixou sua mãe sozinha com cinco filhos.
"Nunca voltei a vê-lo. Sempre senti este vazio na minha vida, e não sou o único", escreveu no jornal The Guardian em 2013, em uma série de artigos sobre a importância da presença paterna na vida dos filhos.
Lammy cresceu em Tottenham, ao norte de Londres.
- O deputado mais jovem -
No final da década de 1990, tornou-se o primeiro britânico negro a estudar na Faculdade de Direito de Harvard, antes de se tornar amigo de Barack Obama em um evento de ex-alunos negros.
Sua esposa, a artista Nicola Green, pintou a campanha de Obama de 2018 em uma série de retratos.
Eleito em 2000, aos 27 anos de idade, David Lammy foi o deputado mais jovem a ocupar um assento na Câmara dos Comuns, antes de ascender rapidamente a cargos ministeriais nos governos de Tony Blair e Gordon Brown.
Em 2013, ele se desculpou com a BBC depois de acusá-la de "insinuações raciais idiotas" na cobertura da escolha do papa, quando a emissora mencionou fumaça branca ou negra no anúncio do novo sumo pontífice da Igreja Católica.
Atlantista convicto e apegado à "relação especial" entre Londres e Washington, Lammy afirmou que vai trabalhar com Donald Trump, caso o republicano vença as eleições presidenciais americanas em novembro.
Antes disso, ele havia chamado Trump de "sociopata com simpatia a neonazistas", além de acusá-lo de misoginia, embora tenha recentemente afirmado que seus comentários foram "mal compreendidos".
"Quem quer que esteja na Casa Branca ou em Downing Street, devemos trabalhar juntos", enfatizou, destacando que a relação entre os dois países é crucial "não apenas para nossa segurança nacional, mas também para a segurança de grande parte do mundo".
- Sem mudanças previsíveis nas Malvinas -
Lammy defende o direito à autodeterminação dos habitantes das Ilhas Malvinas, um território no Atlântico Sul (chamado de Falkland pelos britânicos), cuja soberania é reivindicada pela Argentina, conforme escreveu em uma rede social em 2 de abril de 2022.
"Completam-se 40 anos desde o início da guerra das Malvinas. Recordamos todos os que serviram e fizeram o máximo sacrifício pela liberdade. Mantemos firme nosso compromisso com os habitantes e seu direito à autodeterminação", declarou, referindo-se ao conflito militar entre os dois países em 1982.
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