A Polícia Federal (PF) lançou nesta quinta-feira (11) uma nova operação contra suspeitos de terem participado de um suposto esquema de espionagem ilegal de figuras políticas e jornalistas de destaque durante o governo de Jair Bolsonaro.
Entre as principais personalidades que foram monitoradas estão o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e seu antecessor, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), segundo um relatório da investigação divulgado nesta quinta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável pelo caso.
O próprio Moraes, alvo frequente da ira de Bolsonaro por ter ordenado várias investigações contra o ex-pesidente e seu entorno, é citado no documento como uma das figuras espionadas, assim como outros três ministros da corte, incluindo seu atual presidente, Luis Roberto Barroso.
A lista também inclui o ex-governador de São Paulo João Doria e jornalistas renomadas como Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e Vera Magalhães, de O Globo, a quem Bolsonaro chamou de "uma vergonha para o jornalismo brasileiro" durante um debate eleitoral em 2022.
"Espionagem utilizando o aparato estatal a pessoas consideradas adversárias do antigo presidente é comportamento de governo totalitário e criminoso, típico das piores ditaduras", reagiu em uma nota Rodrigo Maia, que presidiu a Câmara dos Deputados de 2016 a 2021.
- 'Organização criminosa' -
A Polícia Federal lançou a nova operação nesta quinta-feira, a quarta no âmbito deste caso, cumprindo "cinco mandados de prisão preventiva e sete ordens de busca e apreensão".
As ordens de prisão são direcionadas a agentes da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, e influenciadores digitais suspeitos de propagar desinformação.
A polícia informou que a operação foi realizada em quatro estados e no Distrito Federal, mas não indicou se os suspeitos foram detidos.
Eles são acusados de integrar uma "organização criminosa" que criou "perfis falsos" de membros dos Três Poderes e jornalistas e difundiu notícias falsas. Também acessaram "ilegalmente" computadores e telefones.
Os suspeitos usaram recursos da Abin "para monitorar autoridades dos Poderes Judiciário (Ministros desta CORTE e os seus familiares) e Legislativo (Senadores da República e Deputados Federais), com o objetivo de obter vantagens políticas" e "desestabilizar as instituições republicanas", afirmou o ministro Moraes no documento que autorizou a operação policial.
- 'Gabinete do ódio' -
Embora não o envolva diretamente, o escândalo de espionagem atinge Jair Bolsonaro.
Em fevereiro, a PF revistou uma casa de praia onde a família Bolsonaro se encontrava em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, no âmbito dessa mesma investigação.
Os agentes também estiveram em imóveis ligados ao vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), segundo filho do ex-presidente.
Carlos Bolsonaro, mencionado na investigação como parte do "núcleo político" do esquema criminoso, é suspeito de ter coordenado sob a presidência de seu pai um "gabinete do ódio", uma "milícia digital" encarregada de difamar opositores nas redes sociais e de disseminar informações falsas.
Nesta quinta-feira, o filho do ex-presidente reiterou na rede social X que "nunca sequer mostraram nenhuma prova" que o vincule às acusações.
- 'Estrutura paralela' -
A investigação identificou que policiais federais e agentes de inteligência integravam uma "estrutura paralela que atuava sob o comando" do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), atualmente deputado federal e homem de confiança de Jair Bolsonaro.
O senador Flávio Bolsonaro, outro filho do ex-presidente, denunciou no X uma tentativa de "prejudicar a candidatura" de Ramagem, que concorre à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de outubro.
O escândalo estourou em outubro com a prisão de dois funcionários da Abin, suspeitos de terem usado sem autorização o software de espionagem israelense FirstMile. O programa, adquirido pelo governo brasileiro pouco antes da chegada de Bolsonaro ao poder, permite rastrear a geolocalização de celulares.
Bolsonaro, que tem vários processos abertos na Justiça, diz ser vítima de "perseguição". "Querem a minha cabeça", declarou após a operação policial em fevereiro.
Na semana passada, a PF recomendou a acusação do ex-presidente por um suposto desvio de joias presenteadas ao Brasil por países estrangeiros. Ele também é investigado pela suposta falsificação de certificados de vacinas contra a covid-19, a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília em janeiro de 2023 por seus apoiadores, e por um suposto plano de golpe de Estado para se manter no poder.
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