O grupo islamista Hamas anunciou neste domingo (14) que abandonou as negociações para um cessar-fogo com Israel na Faixa de Gaza, um dia após um bombardeio israelense que teve como alvo o comandante militar do grupo.

O movimento, no entanto, "está disposto a retomar as negociações quando Israel demonstrar seriedade para concluir um acordo de cessar-fogo" e sobre a libertação dos reféns em Gaza, em troca de presos palestinos detidos em Israel, afirmou uma fonte do Hamas.

O anúncio aconteceu depois que, segundo o Hamas, bombardeios israelenses mataram 92 palestinos no sábado no campo de deslocados de Al Mawasi, sul do território, perto de Khan Yunis, e 20 pessoas no campo de Al Shati na Cidade de Gaza, norte do território.

Israel informou que tinha como alvos na área de Khan Yunis dois líderes do Hamas, Mohammed Deif e Rafa Salama - chefe do braço armado e comandante em Khan Yunis, respectivamente -, apresentados como "dois cérebros do massacre de 7 de outubro", dia em que o movimento islamista executou um ataque em território israelense que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.

"O bombardeio aconteceu em uma área fechada, administrada pelo Hamas, onde, segundo nossas informações (...) não havia civis", afirmou o Exército israelense, que garantiu que "a maioria das vítimas era de terroristas".

Uma fonte de alto escalão do Hamas informou à AFP neste domingo a decisão do movimento de abandonar as negociações indiretas para um cessar-fogo, lideradas pelos países mediadores - Catar, Egito e Estados Unidos -, e denunciou os "massacres" israelenses "contra civis desarmados".

O líder do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, informou os mediadores e participantes regionais sobre a decisão, acrescentou a fonte.

Outra fonte do movimento anunciou que o comandante militar do Hamas, Mohammed Deif, está vivo. "Ele está bem e supervisiona as operações da Brigadas al Qasam (braço armado do Hamas) e da resistência", declarou.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou no sábado que não havia certeza se Mohammed Deif e Rafa Salama foram "eliminados".

- "Massacre terrível" -

A guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza começou em 7 de outubro, quando comandos islamitas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses. 

O Exército de Israel calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, 42 das quais teriam morrido. 

Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma ofensiva que já matou 38.584 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007. 

O movimento islamista denunciou um "massacre terrível" no campo de Al Mawasi, um bombardeio em que morreram essencialmente mulheres e crianças, segundo a Defesa Civil. Catar e Egito também condenaram o ataque.

Para Netanyahu, a operação de sábado envia "uma mensagem de dissuasão" aos inimigos de Israel e contribui para enfraquecer o Hamas.

Mohammed Deif, um dos comandantes do grupo islamista mais procurados por Israel há vários anos, foi o homem que anunciou em uma mensagem de áudio divulgada pelo Hamas o início do ataque na manhã de 7 de outubro. Deif conseguiu escapar de pelo menos seis tentativas de eliminação.

Ao mesmo tempo, o Exército de Israel prossegue com as operações na zona de Rafah, no sul, e na Cidade de Gaza, no norte do território, onde as tropas "eliminaram vários terroristas".

Pelo menos oito pessoas morreram durante a noite na cidade, após bombardeios contra vários edifícios, segundo serviços de Emergência e Defesa Civil.

- Duro golpe para as negociações - 

Após meses de apelos internacionais por um cessar-fogo, a decisão do Hamas de sair das negociações representa um duro golpe nos esforços dos mediadores para garantir uma trégua no território cercado, onde a situação humanitária é desastrosa.

As tentativas diplomáticas começaram depois que, na semana passada, o Hamas aceitou negociar a libertação dos reféns sem um cessar-fogo permanente com Israel, que era uma das exigências do movimento.  

O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahuh no sábado de querer bloquear um cessar-fogo com "massacres odiosos", segundo um comunicado do movimento.

"A posição israelense (...) consiste em impor obstáculos que impeçam alcançar um acordo", denunciou Haniyeh, que, ao mesmo tempo, destacou o que chamou de "resposta positiva e responsável" do Hamas aos esforços dos mediadores.

Netanyahu sempre afirmou que pretende continuar com a guerra até obter a destruição do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, e conseguir a libertação de todos os reféns.

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