Sangrando, com o punho erguido e a bandeira americana ao fundo, Donald Trump convocou seus apoiadores a lutar. O republicano sobreviveu neste sábado a uma tentativa de assassinato, que pode impusionar seu desejo de retornar à Casa Branca.

Para o ex-presidente, sua salvação responde a uma obra de Deus. Ele pediu união, e que se evite "que o mal vença".

O foco se desviou dos problemas na Justiça para o risco que Trump correu. O episódio obrigou seu adversário, o presidente democrata, Joe Biden, a suspender temporariamente seus atos de campanha, e atraiu a solidariedade de líderes que divergem do pensamento do republicano.

Trump é aguardado nesta semana na Convenção Nacional em Milwaukee por uma multidão pronta para proclamá-lo não apenas candidato oficial do Partido Republicano, mas também um sobrevivente milagroso.

Nas redes sociais, surgiram imagens criadas por apoiadores em que uma mão divina bloqueia o tiro que atingiu a orelha direita de Trump durante o comício em Butler, Pensilvânia.

“Acredito que isso vá fortalecer a base eleitoral de Trump e unir os republicanos em torno dele", diz Wendy Schiller, professora de ciência política na Universidade de Brown. "Mas não estou convencida de que isso vá atrair o voto dos eleitores independentes.”

- Nasce um 'mártir' -

O ataque a tiros fez com que aquele que os críticos acusam de ser uma ameaça à democracia e ao Estado de Direito se tornasse uma vítima da violência política. 

O senador democrata da Pensilvânia, John Fetterman, alertou hoje que o ataque não deve se tornar “uma oportunidade para a política ou estratégia”.

A retórica de Trump, que, afundado em escândalos na Justiça, afirma que querem tirá-lo do caminho eleitoral, pode ser fortalecida. Segundo disse à rede de TV CNN o ex-estrategista democrata da Casa Branca David Axelrod, Trump deve ser “recebido como uma espécie de mártir” em Milwaukee.

O primeiro ex-presidente americano condenado criminalmente teve sucesso na arrecadação de fundos para enfrentar seus custos legais.

- Antecedente de Reagan -

Para seus adversários, pode se tornar mais difícil criticar Trump, que escapou da morte durante um ato democrático.

A tentativa de assassinato do presidente republicano Ronald Reagan, gravemente ferido por disparos em 30 de março de 1981, em Washington, permitiu-lhe um grande salto de popularidade.

Apesar dos ferimentos, Reagan insistiu em entrar caminhando na emergência do hospital George Washington, e os americanos ficaram profundamente comovidos nos dias seguintes, ao verem o presidente brincar com médicos e enfermeiras.

Mas o benefício, em longo prazo, pode estar mais relacionado ao aumento da participação eleitoral e à garantia de votos, do que à atração dos indecisos.

“No fim, os eleitores vão se acalmar e se voltar para o seu candidato preferido. As pessoas que se aproximam de Trump por simpatia provavelmente voltarão atrás", publicou no X o pesquisador veterano Frank Luntz.

"Mas o que aconteceu, definitivamente, vai afetar a votação final, garantindo que todos os eleitores de Trump realmente vão votar", acrescentou Luntz.

O pesquisador acredita que o aumento da participação pode valer a Trump até dois pontos na apuração total em todo o país, com um impulso mais acentuado na Pensilvânia, um estado crucial, que Biden precisa defender se quiser ter chances de vencer em novembro: "O caminho de Joe Biden se tornou ainda mais longo e sinuoso.”

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