No início da semana, o Partido Republicano adotou o seu programa político para um eventual próximo governo, mas é outro roteiro, muito mais radical e promovido pelos mais próximos de Donald Trump, que gera debate.
Com o título "Projeto 2025", este plano de 887 páginas foi elaborado pela Heritage Foundation, um 'think tank' conservador altamente influente em Washington.
Em particular, planeja reformar o status do funcionário federal, até agora protegido de alternâncias de poder político, o que poderia permitir a Trump, se retornar à Casa Branca em 2025, posicionar ultraconservadores leais em cargos estratégicos.
O texto propõe também a reestruturação das agências federais para centralizar o poder Executivo na Casa Branca e assim permitir a implementação de uma política muito conservadora em questões que vão da imigração ao aborto.
Os opositores do ex-presidente republicano denunciam o projeto como uma compilação de ideias autoritárias e de extrema direita.
Entre as medidas mais criticadas estão a criação de uma "vigilância do aborto" por parte dos governos estaduais, a proibição da pílula abortiva utilizada na maioria das interrupções voluntárias da gravidez e a limitação do uso da pílula do dia seguinte.
Também criticam as medidas que visam acabar com todos os programas de energia limpa ou que promovem uma exploração ainda mais agressiva dos combustíveis fósseis.
- Argumento de campanha para Biden -
"Estamos no caminho para uma segunda revolução americana, que ocorrerá sem derramamento de sangue se a esquerda não se opor a ela", disse Kevin Roberts, presidente da Heritage Foundation, no início de julho, a respeito de uma recente decisão da Suprema Corte ao reconhecer uma extensa imunidade ao ex-presidente.
Seus comentários foram criticados por alguns políticos.
Diante da polêmica em torno do "Projeto 2025", Donald Trump se distanciou do texto.
"Não vi, não faço ideia de quem está por trás disso", disse o candidato na sua rede Truth Social, ao declarar que o programa apoiado pelo Partido Republicano "não tem nada a ver" com o Heritage.
Em 2022, em um jantar organizado pela Heritage Foundation, o bilionário disse, no entanto, que o trabalho então realizado por esta organização estabeleceria as bases "para o que o nosso movimento fará" durante um segundo mandato.
Se o roteiro adotado na convenção republicana em Milwaukee mostra posições muito mais moderadas, especialmente sobre o aborto, o "Projeto 2025" retoma múltiplas ideias apresentadas por Donald Trump.
Por exemplo, o desmantelamento do Departamento da Educação, ou a reforma do governo federal, que acusa de ser instrumentalizado contra os conservadores, ou mesmo a realização de prisões e deportações em massa de migrantes em situação irregular.
O seu rival, o democrata Joe Biden, foi rápido em fazer deste plano um elemento central de sua campanha, acusando Trump de tentar esconder os seus vínculos com o texto, o que, segundo ele, é suficiente para "aterrorizar" todos os eleitores.
Os democratas apontam vários membros do círculo íntimo do magnata republicano pela sua relação ou participação na preparação do "Projeto 2025".
Entre eles, Stephen Miller, principal ex-conselheiro de Trump, ou mesmo Ben Carson e Christopher Miller, ex-membros do seu gabinete.
Em Milwaukee, onde acontece a convenção republicana, o Partido Democrata também instalou uma dúzia de cartazes denunciando "o terrível programa Projeto 2025" de Trump e seu companheiro de chapa J.D. Vance.
Os comentários democratas são "desinformação", criticaram os porta-vozes da Heritage Foundation em Milwaukee na segunda-feira.
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