A Justiça russa anunciou que os argumentos finais do julgamento por espionagem contra o jornalista americano Evan Gershkovich serão ouvidos na sexta-feira (19), abrindo caminho para uma rápida condenação, condição prévia para uma possível troca de prisioneiros com Washington.

O repórter de 32 anos foi detido em março de 2023 durante uma cobertura na cidade de Ekaterimburgo, região dos Urais, e está preso há 16 meses na Rússia.

Gershkovich é o primeiro jornalista ocidental acusado de espionagem na Rússia desde o período soviético e pode ser condenado a até 20 anos de prisão.

O julgamento foi retomado a portas fechadas nesta quinta-feira (18) em um tribunal da cidade de Ekaterimburgo. Esta é apenas a segunda audiência desde o início do processo, em 26 de junho.

"Amanhã a audiência acontecerá às 10h30 (02h30 em Brasília), serão ouvidos os argumentos finais", declarou à AFP Ekaterina Maslennikova, porta-voz do tribunal onde o jornalista do Wall Street Journal está sendo julgado. 

O veredicto poderá ser anunciado na sexta-feira ou em data posterior.

O Kremlin não apresentou até o momento evidências das acusações de espionagem, mas afirma que Gershkovich foi detido em flagrante e trabalhava para a CIA.

A Promotoria afirma que ele estava compilando informações da fabricante russa de tanques Uralvagonzavod.

Os Estados Unidos afirmam que a acusação é fabricada e têm como objetivo utilizar o jornalista para uma possível troca de prisioneiros.

Em julho, um painel de especialistas das Nações Unidas declarou que sua prisão era arbitrária.

Rússia e Estados Unidos já expressaram disposição a negociar uma troca para libertar o jornalista, mas nenhum dos lados revelou pistas sobre quando isto pode acontecer.

- Cartas censuradas -

A agência de notícias Ria Novosti afirmou que uma autoridade local, Viacheslav Vegner, foi interrogada nesta quinta-feira por supostamente ter sido entrevistado por Gershkovich antes de sua prisão em março de 2023.

Este deputado regional foi visto no tribunal por um jornalista da AFP.

Diferentemente da audiência anterior, a imprensa não conseguiu ver o acusado na sala antes do início do julgamento.

A última aparição pública de Gershkovich, que trabalhou para a AFP antes de virar correspondente em Moscou do The Wall Street Journal, foi em 26 de junho no tribunal, onde apareceu sorridente e com a cabeça raspada.

O serviço penitenciário russo se recusou a revelar onde ele seria detido após a audiência ou por que seu cabelo foi raspado.

No momento, ele só consegue se comunicar com a família e amigos por meio de cartas lidas e censuradas pela administração penitenciária. Nas correspondências, o jornalista afirma que continua de bom humor e está resignado com uma possível condenação.

"Ele está lidando da melhor maneira que consegue", declarou sua mãe, Ella Milman, ao WSJ em março.

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