Os ministros das Finanças do G20 se reúnem nesta quinta-feira (25) no Rio de Janeiro para debater a ideia de um imposto sobre grandes fortunas diante da crescente desigualdade no mundo, um tema que gera divisões dentro do grupo.
A iniciativa é impulsionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que neste ano preside o grupo das maiores economias globais.
Os titulares das Finanças abordarão o tema espinhoso em uma reunião à tarde.
"Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros", criticou Lula na quarta-feira ao anunciar a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Este mecanismo é uma prioridade da presidência brasileira do G20 e tem como objetivo facilitar a cooperação de Estados e organizações internacionais para erradicar a fome no mundo.
Segundo Lula, os bilionários devem pagar impostos porque "no topo da pirâmide, os sistemas tributários deixam de ser progressivos e se tornam regressivos".
- Washington e Berlim reticentes -
As desigualdades continuaram aumentando nos últimos anos, segundo um estudo da ONG Oxfam publicado nesta quinta-feira: o 1% mais rico do mundo viu sua riqueza crescer em US$ 42 trilhões (R$ 236,6 trilhões, na cotação atual), mas sua tributação é "historicamente" baixa.
O economista francês Gabriel Zucman estima que a taxa de imposto para os bilionários é de 0,3% de sua riqueza.
Em um relatório recente elaborado a pedido do Brasil, Zucman propôs criar um imposto de 2% sobre as fortunas de cerca de 3 mil bilionários.
Mas nem todos os países do G20 apoiam essa ideia.
Os Estados Unidos manifestaram sua oposição às negociações internacionais sobre o tema, enquanto o Ministério das Finanças alemão, às vésperas do G20, considerou "pouco pertinente" a ideia de um imposto mínimo sobre o patrimônio.
Além de um sistema tributário internacional, espera-se que esta reunião de ministros, que antecede a cúpula de chefes de Estado e de governo em 18 e 19 de novembro - também no Rio -, aborde a situação econômica mundial e, na sexta-feira, o financiamento da transição climática e a dívida.
As divisões internacionais devido às guerras na Ucrânia e em Gaza tornaram as declarações conjuntas do G20 um assunto também sensível.
Durante a última reunião de ministros das Finanças em São Paulo, em fevereiro, esses temas levaram a um "impasse".
Desta vez, a solução idealizada pelo Brasil é a redação de três textos.
Por um lado, haveria um documento dedicado exclusivamente à cooperação internacional em matéria tributária, que incluiria o tema do imposto sobre grandes fortunas. Por outro, um comunicado final mais amplo e, por último, uma "declaração" publicada separadamente pela presidência brasileira, a única que faria referência às crises geopolíticas.
Esse modelo já foi colocado em prática esta semana. A presidência brasileira do G20 emitiu na quarta-feira uma "declaração" afirmando que alguns membros do G20 "expressaram suas perspectivas" sobre a situação na Ucrânia e em Gaza durante os debates da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Alguns países veem o G20 como um fórum relevante para debater esses temas, enquanto outros pensam o contrário.
"É bem provável, segundo minha experiência em reuniões anteriores do G20", que os próximos encontros a nível ministerial resultem em textos separados, disse na quarta-feira aos jornalistas a comissária europeia de parcerias internacionais, Jutta Urpilainen.
Aspirar a um texto único "não nos permitiria adotar nada", acrescentou.
Fundado em 1999, o G20 reúne a maioria das principais economias mundiais, assim como a União Europeia e a União Africana.
No início, sua vocação era principalmente econômica, mas cada vez mais se envolveu nos temas quentes da atualidade internacional.
alb/tmo/mel/ll/am