A campanha para as eleições presidenciais nos Estados Unidos entra neste domingo (28) em seus últimos 100 dias, profundamente marcada pela tentativa de assassinato de Donald Trump e pela abrupta saída do presidente Joe Biden da disputa.

Após semanas de lutas internas e dúvidas sobre a candidatura de Biden, a unidade dos democratas sobre a vice-presidente Kamala Harris remodelou a disputa presidencial até agora dominada por Trump.

"Somos os outsiders (...) isso é certo, mas esta é uma campanha impulsionada pelo povo", disse a nova candidata democrata no sábado (27), durante um evento de arrecadação de fundos em Pittsfield, Massachusetts (nordeste).

Na mesma tarde, diante de uma multidão de apoiadores reunidos em um estádio de hóquei em Minnesota (norte), seu rival republicano afirmou que "em novembro, o povo americano irá rejeitar o extremismo louco e progressista de Kamala Harris de forma esmagadora".  

Embora as campanhas eleitorais americanas tenham duração de quase dois anos, a de 2024 acaba de ter um novo início, tornando-a a mais curta da história moderna dos EUA.

A ex-senadora, de 59 anos, e o ex-presidente, de 78, se enfrentarão em 5 de novembro em uma eleição que estará em grande parte nas mãos de 100 mil eleitores em alguns estados importantes, segundo o estrategista republicano Matt Terrill.  

Estes são "eleitores independentes e indecisos. A inflação, a imigração, a economia e o crime são as questões que os preocupam", afirmou Terrill à BBC News.

Para ele, Trump está indo muito bem nestas questões" e esta eleição será um "referendo" sobre o desempenho de Biden e Harris. 

O próximo destaque para o lado democrata será a convenção de meados de agosto, que promete ser uma grande celebração da nova candidata do partido.

Harris decola sob a influência de uma campanha de arrecadação de fundos muito bem-sucedida e de uma renovada mobilização da base democrata, uma situação que contrasta fortemente com a do mês passado.

- Confronto inédito -

Em meio às preocupações dos eleitores sobre sua idade e condições físicas e mentais, Biden, de 81 anos, estava em forte desvantagem em comparação a Trump. 

Seu fraco desempenho no debate de 27 de junho convenceu os líderes democratas que até então o apoiavam de que era necessário mudar de candidato.  

No campo republicano, a dinâmica foi contrária. A convenção do partido em meados de julho foi uma grande demonstração de força e unidade em torno de Trump, que pouco antes havia escapado de uma tentativa de assassinato durante um comício na Pensilvânia.  

A ascensão de Harris mudou o cenário. O vazio deixado por Biden foi rapidamente preenchido pela primeira vice-presidente negra e de origem asiática dos EUA.

Em 23 de julho, apenas dois dias após ter sido indicada para representar os democratas na corrida eleitoral, Harris protagonizou o maior evento público da campanha de seu partido. 

Nos últimos dias, ela também conseguiu arrecadar US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão na cotação atual), em sua maioria doadores novos, informou sua equipe de campanha neste domingo.

A mudança também se refletiu nas pesquisas. 

Uma análise do Wall Street Journal mostrou que Harris reduziu a diferença de seis pontos de Biden sobre Trump para apenas dois (na margem de erro do estudo), graças principalmente ao crescimento que registrou entre os eleitores negros, latinos e jovens.

O cientista político republicano David Lee, que conduziu a pesquisa, alertou que Trump "está em uma posição muito melhor agora do que na mesma altura nas eleições de 2020", nas quais foi superado por Biden. 

Lembrou ainda que, dependendo do sistema eleitoral americano, a importância do volume de votos é relativa. Em 2016, o magnata derrotou a democrata Hillary Clinton, apesar de ter obtido quase três milhões de votos a menos.

Apesar desta evolução dos democratas, o partido ainda tem um longo caminho a percorrer para melhorar suas perspetivas de vitória.

"Em breve, a 'lua de mel' de Harris terminará e os eleitores mais uma vez se concentrarão em seu papel como parceira e copiloto de Biden", analisou o especialista em pesquisas de Trump, Tony Fabrizio, em um memorando.  

Já para o ex-presidente Barack Obama, os democratas continuam sendo "outsiders" que devem reconquistar a confiança do eleitorado.

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