Refugiados e migrantes sofrem uma extrema violência, abusos e exploração na rota através da África para chegar ao Mediterrâneo e estima-se que esta viagem seja mais mortal do que atravessar o mar, alertou a ONU em um relatório nesta sexta-feira (5). 

"Nesta viagem, ninguém se importa se você vive ou morre", é o título de um relatório do Acnur, da Agência das Nações Unidas para os Refugiados, e da organização Mixed Migration Centre.

Os autores do relatório estimam que nas rotas terrestres pela África "morrem duas vezes mais pessoas" do que na travessia do Mediterrâneo central até a Europa, onde foram registradas quase 800 mortes desde o início do ano. 

Os autores do relatório reconhecem que há uma dificuldade em fazer projeções devido à falta de dados, mas alertam que todos os anos milhares de pessoas morrem nesta perigosa rota. 

Especialistas entrevistaram mais de 31 mil refugiados e estimaram que "as mortes de refugiados e migrantes no deserto são o dobro daquelas que ocorrem no mar".

- Tortura e sequestros  -

Vincent Cochetel, emissário especial do Acnur para o Mediterrâneo Central e Ocidental, observou que todos os migrantes que atravessam o Saara relatam ter visto corpos ao longo do caminho. 

"Cada pessoa que atravessa o Saara tem alguém conhecido que morreu no deserto", declarou. 

Os migrantes estão expostos à tortura, aos sequestros, ao tráfico de seres humanos, à violência sexual, às detenções arbitrárias e às expulsões coletivas, denuncia o relatório. 

Apesar dos "horrores inimagináveis enfrentados pelas pessoas em alguns países ao longo da rota", o relatório destaca que há um aumento no número de pessoas que fazem esta rota, em parte devido à deterioração da situação em muitos países do Sahel, no Chifre da África e no leste, mas também devido ao impacto da mudança climática e dos desastres naturais.

- Roubo de órgãos -

Não há estatísticas confiáveis sobre o fluxo de pessoas pela África, mas o Acnur destacou que as chegadas de pessoas à Tunísia triplicaram entre 2020 e 2023. 

Da análise das entrevistas, os especialistas destacaram que quase quatro em cada dez migrantes declararam ter sofrido violência física durante a viagem. 

Cochetel estimou que "centenas" de pessoas também foram vítimas de tráfico de órgãos. 

Alguns venderam os seus órgãos por desespero, mas "na maioria dos casos, as pessoas foram drogadas" e não deram consentimento. "Elas acordam sem um rim", disse.

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