O sol acaba de nascer nos subúrbios de Xangai, capital econômica da China, e um grupo de homens empunha seus documentos para chamar a atenção de um funcionário de uma agência de trabalho temporário, na esperança de conseguir um emprego de 12 horas em um armazém.

"Precisamos de gente forte", diz o contratante, alertando que durante o verão a temperatura pode subir rapidamente no armazém.

Diariamente, milhares de trabalhadores do campo tentam conseguir empregos nas fábricas ou empresas de construção de Xangai, trabalhos precários que são mais difíceis de encontrar à medida que a segunda maior economia do mundo desacelera.

As autoridades chineses se reunirão a partir de segunda-feira (15) em Pequim com o objetivo de definir medidas para reativar uma economia afetada pela crise imobiliária, a queda do consumo e o elevado desemprego juvenil.

Shen Peng, de 34 anos, não trabalha há 10 dias.

"Gostaria de conseguir um emprego em uma fábrica", conta este homem da província de Shaanxi, no norte, relatando os empregos braçais mal remunerados.

Este ex-cozinheiro paga 40 yuans (cerca de US$ 7 ou quase R$ 37 na cotação atual) por noite por um pequeno quarto com ar-condicionado em uma pensão em Xangai, o qual divide com o filho.

Esta é a segunda vez que Peng tenta a sorte na megalópole chinesa, à qual chegou pela primeira vez em 2017, época em que as ofertas de emprego eram abundantes.

Trabalhou em uma fábrica do grupo taiwanês Quanta Computer e ganhava até 8.000 yuans por mês (mais de US$ 1.100 ou R$ 5.800), com alimentação e moradia incluídos. Mas agora é muito mais difícil encontrar emprego.

"Antes não havia limites, bastava conhecer as 26 letras do alfabeto em inglês", lembra. Agora, as pessoas com sobrepeso são rejeitadas por medo de não estarem em boas condições físicas para trabalhar, conta ele. 

Shen Chunping, da província de Anhui (leste), teve mais sorte. Depois de ficar desempregado em maio e junho, conseguiu um emprego temporário lavando pratos em um restaurante, por um salário diário de 112 yuans (US$ 15 ou R$ 79).

"Não tive muita educação, apenas fui à escola. Agora aceito qualquer trabalho", disse ele à AFP.

- "Mais difícil" -

"Já fiz de tudo", conta o homem, detalhando seus trabalhos como entregador de comida ou segurança. Mas "este ano há mais pessoas [à procura de emprego] e não encontram nada", acrescenta. 

Em frente a um edifício próximo da agência de trabalho temporário, uma centena de pessoas espera conseguir um emprego, mesmo que informal. 

Muitos deles carregam pás, na esperança de serem contratados imediatamente para trabalhar em alguma construção. Outros chegam ao local às 3h da manhã.

"Este ano está um pouco mais difícil que o anterior, o crescimento de Xangai chegou ao seu limite", diz Shao Tongfang, que veio da província de Anhui há 20 anos em busca de um futuro melhor. 

Ele planeja retornar à vida de agricultor em sua província natal "em alguns anos".

Natural da mesma província, Mei Buqin ainda espera conseguir um emprego em Xangai.

"Não vou conseguir isso na minha cidade natal", diz com pessimismo. 

O sol nasce e uma pessoa de sorte consegue um trabalho diário. Com um sorriso no rosto, ele embarca em uma scooter dirigida por seu novo chefe em direção ao centro de Xangai.

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