Há duas semanas da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, Tony Estanguet, presidente do Comitê  Organizador, expressa em entrevista à AFP sua confiança de que serão "espetaculares". 

Estanguet reconhece, no entanto, que não foram escolhidas "as opções mais fáceis" ao apostarem em uma cerimônia de abertura com um desfile fluvial ao ar livre, e por quererem realizar as provas de triatlo e maratona aquática no rio Sena.

Pergunta: Há um suposto alívio com o fim do período eleitoral na França?

Resposta: Sim, sem dúvida é um alívio que tenhamos deixado esse período para trás. Representou um momento importante para o país, que temos respeitado da mesma maneira que respeitamos todas as etapas democráticas desde 2015. A boa notícia é que não sofremos atrasos e nem fomos afetados pela realização das eleições.

P: Apesar do fato de não se saber qual será o governo na França quando os Jogos começarem.

R: Uma coisa que aprendi neste cargo é estar sempre no meu lugar. Não cabe a mim nomear o governo. Já enfrentei outras situações em que tive de me adaptar e confio que o Estado acompanhará este projeto até ao fim. Obviamente, uma facilidade de vez em quando não iria mal. 

P: A Chama Olímpica chegará no domingo (14 de julho) a Paris. Qual é a sua expetativa para esse momento? 

R: Cada vez tenho me impressionado mais com o valor que este símbolo tem para as pessoas. Ficam emocionadas ao ver passar a Chama Olímpica e ao assistirem a este espetáculo. O êxito da mudança, com cinco milhões de franceses presenciando-o diretamente desde 8 de maio, é o fruto da vontade de fazer estes Jogos acessíveis. Quando a chama chegar em Paris, será um momento importante, pois se tratará da reta final. Chegará a Champs-Élysées no dia do feriado nacional, espero que tenha muita gente.

P: Ficou surpreso com o interesse e o fervor das pessoas? 

R: Não tínhamos certeza absoluta de que conseguiríamos manter o interesse e o fervor das pessoas durante 80 dias. Estamos satisfeitos com o balanço até agora, cumprimos o objetivo a que nos propusemos. Centenas de milhares de pessoas assistiram à chegada do "Belém" [o navio que transportava a chama olímpica] a Marselha. Esse momento foi um ponto inflexão (virada), inclusive para mim.

P: Foi feita uma aposta arriscada tendo que depender das condições meteorológicas e dos níveis do Sena, com a cerimônia de abertura e várias provas sendo realizadas no rio. 

R: Sim, há uma parte de audácia e de criatividade. Apostamos em fazer coisas que não tinham sido feitas até agora. Mas desde 1° de julho, a qualidade da água do Sena está ótima [a qualidade esteve ótima durante uma parte de junho devido às fortes chuvas].

O risco zero não existe, mas estamos muito tranquilos a respeito da possibilidade de organizar competições no Sena. Não fazemos apenas por três dias de competição, mas sobretudo por motivos ambientais. Nem optamos pelas escolhas mais fáceis, mas sei, pela minha experiência passada, que não se pode fazer nada de extraordinário a partir da facilidade. Há cem anos que não vivemos esta experiência no nosso país. Viveremos um momento inédito, muito bonito. Acredito que será espetacular!

P: Nesses jogos, devera ter menos de 20 atletas russos. 

R: É uma consequência das decisões e sanções muito severas tomadas pelas federações internacionais, pelo COI e depois pelo Comitê Paralímpico Internacional, não é realmente uma surpresa. Houve uma vontade de reduzir ao máximo [a participação russa], com atletas que não estiveram com absoluto envolvimento no regime. Acolheremos esses atletas como eles merecem e serão bem recebidos em Paris.

P: Como combater o fenômeno de desinformação que os Jogos enfrentam? 

R: Sabemos que existem pessoas que querem fazer com que os Jogos sejam um sucesso. Já houve várias tentativas de circulação de Fake News. Pedimos sempre às pessoas que sejam prudentes, que relativizem a informação, que a verifiquem, que não compartilhem imediatamente, sobretudo quando se trata de algo grave. O risco existe e devemos manter-nos calmos e prudentes. Aproveito para voltar a dizer às pessoas: desconfiem de todas as notícias que vão circular durante os Jogos!

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