Donald Trump escolheu J.D. Vance como seu companheiro de chapa para as eleições de novembro. O senador, originário de uma região industrial em declínio, passou de um crítico feroz a um colaborador leal e agora é a esperança para que o magnata republicano vença Joe Biden.

Um candidato à Casa Branca frequentemente escolhe um companheiro de chapa para a vice-presidência que possa atrair novas categorias de eleitores ou compensar fraquezas reconhecidas em termos de imagem ou política.

Trump, no entanto, escolheu alguém parecido com ele: um homem branco, conservador e nascido em um estado como Ohio, onde o magnata já tem todas as possibilidades de ganhar.

"Ele simplesmente disse: Olha, acho que temos que salvar este país. Acho que você é a pessoa que pode me ajudar da melhor maneira. Você pode me ajudar a governar. Você pode me ajudar a ganhar", contou Vance à Fox News, sobre sua conversa com Trump.

"Estamos exultantes", disse Alex Triantafilou, presidente do Partido Republicano de Ohio, na Convenção Nacional Republicana na segunda-feira (15), minutos depois de Vance, de 39 anos, ser anunciado como o candidato a vice-presidente de Trump.

Para ele, trata-se de uma "grande incorporação". Vance "viveu a experiência" de milhões de americanos da classe trabalhadora e da classe média, disse Triantafilou.

Mas o plano de Trump funcionará?

- Reequilíbrio de idade -

O octogenário Joe Biden sofre críticas pela idade avançada e por sua lucidez para continuar na corrida. Mas Trump tem 78 anos.

Vance, que se tornou católico em 2019, tem a metade de sua idade e é o primeiro milenial a integrar uma chapa presidencial de um partido importante dos Estados Unidos.

Ele pode ser um contrapeso à imagem mais jovem que a vice-presidente de Biden, Kamala Harris, de 59 anos, oferece.

Se o presidente democrata se retirar da campanha, como alguns membros de seu partido lhe pedem que faça, a atenção poderia se voltar para a idade de Trump.

É possível que Trump também esteja buscando um sucessor jovem e capaz de capitalizar seu legado, e Vance tem o potencial de liderar uma nova geração MAGA (Make America Great Again).

"O que a escolha de J.D. Vance faz é oferecer continuidade. Mostra que, quando Trump terminar, haverá alguém que seguirá seus passos", assegurou o renomado pesquisador americano Frank Luntz.

- Um crítico convertido -

Vance já foi um crítico feroz de Trump, mas deu uma guinada de 180 graus para se estabelecer como um dos defensores mais fervorosos do bilionário.

Eliminou publicações nas redes sociais nas quais criticava Trump e, em vez disso, abraçou apaixonadamente suas ideias, apoiando uma luta radical contra a imigração e um protecionismo econômico intransigente.

Vance também demonstrou sua lealdade ao defender com unhas e dentes a teoria infundada de Trump de que as eleições de 2020 foram roubadas.

Trump confrontou o vice-presidente Mike Pence durante seu primeiro mandato. Após anos de uma lealdade incondicional, Pence se recusou, em 6 de janeiro de 2021, a obedecer quando Trump lhe pediu que não certificasse a vitória eleitoral de Biden.

"Trump escolheu J.D. Vance porque ele fará o que Pence não fez em 6 de janeiro: fazer tudo o possível para habilitar Trump e sua agenda extremista MAGA, mesmo que isso signifique violar a lei, e certamente sem se importar com o dano ao povo americano", disse a diretora de campanha de Biden, Jen O'Malley Dillon.

- Seduzir uma região industrial -

Conhecida como "cinturão da ferrugem", a região manufatureira do nordeste e meio-oeste dos Estados Unidos é marcada pela decadência industrial desde o final do século XX.

Ohio, que faz parte desta região, tem se deslocado constantemente para a direita e, em teoria, Trump ganharia nesse estado.

Mas o bilionário aposta que Vance poderá ajudá-lo a ganhar em estados vizinhos como Michigan e Pensilvânia, além de Wisconsin.

Os três são cruciais para inclinar a balança em 5 de novembro.

As memórias de Vance, no livro "Hillbilly Elegy" (Era uma vez um sonho, 2016), foram elogiadas em alguns setores por mostrar como são as vidas e os problemas da classe trabalhadora branca.

Vance "encarna Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, esses estados do meio-oeste", disse à AFP na convenção o delegado de Ohio, Charlie Frye, de 53 anos.

O senador "teve uma educação operária no meio-oeste, o que acho realmente poderoso", acrescentou.

Ohio é, além disso, o cenário de uma batalha muito acirrada pelo outro assento do estado no Senado, atualmente ocupado por um democrata, e o impulso de Vance pode ajudar o candidato republicano.

Se isso acontecer, os conservadores podem recuperar o controle da câmara alta do Congresso.

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