A Adidas lançou, na última segunda-feira (15/7), um tênis inspirado nos Jogos Olímpicos de Munique. Para a divulgação, foi escolhida a modelo Bella Hadid. O problema é que, durante o evento esportivo de 1972, 11 atletas e treinadores foram assassinados por um grupo palestino. A escolha de Hadid também foi questionada, já que ela é descendente de palestinos e já fez diversas publicações anti-Israel. Com isso, a Adidas quer voltar atrás na contratação da modelo.
O “Massacre de Munique”, como foi conhecido, aconteceu 10 dias após a cerimônia de abertura da competição. Membros do grupo palestino invadiram o apartamento onde estavam as vítimas. No primeiro momento, eles fizeram nove reféns e mataram o treinador de luta livre Moshe Weinberg e o levantador de peso Yossef Romano, que lutaram contra os agressores.
Os jogos continuaram, mas a imprensa mundial chamou mais atenção para a crise. Os alemães, que sediavam a competição, tentaram resgatar os reféns. Após isso, as outras nove pessoas foram assassinadas.
Em função de todo esse contexto, a Adidas, uma empresa alemão, foi acusada de ser antissemita por resgatar os jogos de Munique, além de trazer Bella para a campanha. A supermodelo árabe-americana é conhecida por sua defesa palestina e suas opiniões anti-Israel.
Para piorar, o sapato foi lançado menos de um ano depois que o Hamas matou 1.200 civis israelenses e fizeram 250 reféns. Estima-se que 116 pessoas ainda estejam mantidas como reféns, segundo a Anistia Internacional.
O Movimento de Combate ao Antissemitismo quer que a Adidas faça um pedido de desculpas. “Para a Adidas escolher Hadid, alguém que está constantemente atacando o Estado Judeu, é ruim o suficiente, mas fazê-la lançar um sapato comemorativo de uma Olimpíada quando tanto sangue judeu foi derramado é simplesmente doentio”, disse o CEO do grupo, Sacha Roytman, em comunicado.
“A decisão da Adidas continua a suscitar sérias preocupações sobre o compromisso da empresa em abandonar as suas raízes nazis”, declarou a organização StopAntisemitism. O porta-voz da Adidas, Stefan Pursche, pediu desculpa pelo anúncio. “Estamos cientes de que foram feitas conexões com eventos históricos trágicos – embora sejam completamente involuntários – e pedimos desculpas por qualquer transtorno ou angústia causado”, disse ao The Washington Times.
“Como resultado, estamos revisando o restante da campanha. “Acreditamos no desporto como uma força unificadora em todo o mundo e continuaremos os nossos esforços para defender a diversidade e a igualdade em tudo o que fazemos”, declarou, não deixando claro se Hadid sairá da campanha.
Mesmo com a polêmica, o tênis SL 72 OG, vendido por US$ 100, estava esgotado nos sites da Adidas e Nordstrom. Segundo o portal israelense Ynet, a campanha não será usada em Israel.
Críticas à Adidas
A onda de críticas recupera a história da marca, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. O criador, Adolf Dassler, era membro do partido nazista e fabricava calçados esportivos que foram adotados por Adolf Hitler, segundo o jornalista Andrew Lapin, da Jewish Telegraphic Agency.
“Durante os infames Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, orquestrados por Hitler numa tentativa de demonstrar a supremacia atlética ariana no cenário mundial, muitos dos atletas alemães usaram sapatos Dassler”, escreveu em um de seus artigos.
Os jogos de Munique de 1972 pretendiam limpar a memória de Berlim de 1936. Quase três décadas após o Holocausto, as autoridades da Alemanha Ocidental trabalharam arduamente para se distanciarem do passado nazista do país, mas a competição acabou sendo lembrada por mais mortes de judeus.
A parceria com Hadid foi comparada com a da marca com o rapper Kanye West, que também fez declarações anti-semitas. "Eu ainda mantenho alguns judeus perto de mim. Como empresários? Não. Só deixo fazerem minhas joias", disse em uma live de 2022. Em um podcast, ele chegou a se gabar da parceria com a Adidas. “Posso literalmente dizer coisas anti-semitas e eles não podem me abandonar”, afirmou.
O que Bella Hadid já disse
As declarações de Bella Hadid causam controvérsia. Acusada de ser “relações públicas do Hamas”, ela já fez diversos posts defendendo a ação do grupo. No mês passado, após o resgate de quatro reféns israelenses, Hadid postou uma foto do ex-prisioneiro Almog Meir Jan, que sobreviveu oito meses com ações de pão pita.
Durante seu aniversário, membros do Hamas levaram um bolo para ele. A publicação da modelo elogiou o presente, mas não mencionou o que aconteceu durante o tempo que foi sequestrado.
Em 2021, ela compartilhou um gráfico afirmando que Israel não era um país, mas uma terra habitada por colonizadores. Ela excluiu a postagem em meio a críticas e compartilhou um vídeo do senador Bernie Sanders dizendo: “Não é antissemita criticar um governo de direita em Israel”.
No mesmo ano, a organização StopAntisemitism lançou uma petição pedindo às empresas que removessem Hadid e sua irmã, a também modelo Gigi Hadid, como embaixadoras das marcas. Mais de 92 mil pessoas assinaram o documento.
Bella Hadid também já compartilhou uma postagem “Palestina Livre” e participou de comícios pró-Palestina.