As companhias aéreas retomaram gradualmente os seus serviços neste sábado (20), um dia depois de uma falha cibernética sem precedentes que provocou cenas de caos nos aeroportos e afetou também hospitais, empresas ferroviárias e financeiras em todo o mundo. 

 

A interrupção ocorreu devido a uma atualização incorreta de um programa antivírus do grupo americano de segurança cibernética CrowdStrike Falcon nos sistemas operacionais Windows da Microsoft. 

 

O apagão cancelou voos em vários aeroportos, onde centenas de passageiros lotaram os terminais enquanto aguardavam para saber se poderiam viajar.

 

 

Várias companhias aéreas dos EUA relataram que já retomaram as operações. Na sexta-feira, ao menos três estados sofreram interrupções nos seus serviços de emergência e pelo menos 2.400 voos no país foram cancelados. 

 




"De acordo com as nossas informações, os voos foram retomados em todo o país, mas ainda há congestionamento", disse um representante do governo em coletiva de imprensa. 

 

Na Ásia, os aeroportos de Hong Kong, Coreia do Sul e Tailândia anunciaram o restabelecimento dos seus serviços de faturamento.

 

As operações também voltaram ao normal nos aeroportos de Índia, Indonésia e Singapura. Os aeroportos de Pequim não foram afetados, informou a televisão estatal chinesa. 

 

 

"Gostaria de pedir desculpas pessoalmente a todas as organizações, grupos e indivíduos que foram afetados por esta interrupção", disse o CEO da CrowdStrike, George Kurtz, na rede americana CNBC. 

 

A empresa descartou um ataque cibernético ou um problema de segurança informática. A falha, que está sendo corrigida, não afetou usuários de sistemas Mac e Linux. 

 

Os principais aeroportos da Europa – incluindo Berlim, que suspendeu todos os voos na sexta-feira – informaram que as partidas e chegadas de aviões foram retomadas. 

 

No México, as companhias aéreas pareciam continuar com problemas e os aeroportos de Guadalajara e Monterrey pediram aos viajantes que chegassem com várias horas de antecedência.

 

Alguns "problemas residuais" que causam atrasos também persistem em Sydney, na Austrália, e "cinco voos" operados pela companhia de baixo custo Jetstar no Japão continuarão afetados neste sábado.

 

A CrowdStrike afirmou que a situação pode levar alguns dias para voltar ao normal.

 

- "Não tem precedentes" -

 

 

"A magnitude deste apagão não tem precedentes e, sem dúvida, ficará para a história", disse o especialista em segurança cibernética Junade Ali. A última falha que, segundo ele, teve consequências semelhantes, data de 2017. 

 

A atualização defeituosa ocorreu na quinta-feira por volta das 19h GMT (16h no horário de Brasília), de acordo com a Microsoft. 

 

"É uma das raras ocasiões em que o software de segurança é a causa de uma interrupção tão grande", disse Kayssar Daher, especialista em segurança cibernética entrevistado pela AFP. 

 

A amplitude do fenômeno é explicada pelo fato de que "o Windows está muito difundido e o CrowdStrike também", acrescentou. 

 

As autoridades australianas alertaram para um aumento de fraudes e tentativas de roubo de identidade após o apagão cibernético.

 

A falha, além de causar perturbações nos aeroportos, afetou os serviços digitais dos bancos de Quênia e Ucrânia. 

 

As operadoras de telefonia móvel também sofreram interrupções e os serviços de atendimento de diversas empresas deixaram de funcionar. 

 

A pane também impactou as "operações informáticas" dos Jogos Olímpicos de Paris, informou o comitê organizador do evento uma semana antes da cerimônia de abertura, em 26 de julho. No entanto, as atividades foram "retomadas normalmente" na tarde de sexta-feira, segundo os organizadores. 

 

De acordo com o CEO da Tesla, Elon Musk, a falha também "causou uma parada cardíaca na cadeia de abastecimento da indústria automobilística". 

 

A natureza global da falha cibernética levou alguns especialistas a destacar o fato de que grande parte do mundo depende de um único fornecedor para serviços tão diversos.

 

"Precisamos estar cientes de que este tipo de software pode ser uma causa comum de falha em vários sistemas ao mesmo tempo", disse o professor de engenharia de software John McDermid, da Universidade britânica de York. 

 

"Temos que projetar infraestruturas que sejam resistentes a estes problemas", acrescentou. 

 

O apagão afetou também hospitais holandeses, a Bolsa de Valores de Londres e a principal operadora ferroviária britânica. 

 

Na Bolsa de Valores de Nova York, a CrowdStrike encerrou a sexta-feira com queda de 11,10% e a Microsoft com queda de 0,74%. 

 

As ações globais recuaram devido ao ocorrido e, em Londres e Milão, os índices não conseguiram mostrar a sua taxa de variação durante grande parte da sexta-feira.

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