Aviões israelenses bombardearam neste sábado (20) Hodeida, cidade portuária do Iêmen, um dia depois de um ataque mortal com drone a Tel Aviv, reivindicado pelos rebeldes huthis.

Tratam-se dos primeiros ataques anunciados por Israel contra o Iêmen, um país em guerra, controlado parcialmente por esses insurgentes, apoiados pelo Irã e aliados do movimento islamista palestino Hamas - em guerra com Israel na Faixa de Gaza desde outubro de 2023.

O movimento islamista libanês Hezbollah afirmou que os ataques israelenses contra os rebeldes iemenitas, também aliados do grupo xiita, anunciam uma guinada perigosa após mais de nove meses de guerra em Gaza.

"O passo insensato dado pelo inimigo sionista anuncia uma nova e perigosa fase de um enfrentamento muito importante em toda a região", disse o grupo libanês apoiado pelo Irã em comunicado.

Há meses, os rebeldes huthis realizam ataques no Mar Vermelho e no Golfo de Áden contra embarcações vinculadas, segundo eles, a Israel, em solidariedade aos palestinos de Gaza.

"Aviões de combate do Exército israelense atingiram há pouco alvos militares do regime terrorista huthi na região do porto de Hodeida, no Iêmen, em resposta a centenas de ataques efetuados contra o Estado de Israel" por esses rebeldes nos últimos meses, informou o Exército israelense em um comunicado.

"Vamos nos defender por todos os meios, em todas as frentes", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após os bombardeios no Iêmen.

Os huthis, por sua vez, afirmaram que Israel "pagará por atacar instalações civis, e responderemos à escalada com escalada".

Israel atingiu "instalações de armazenamento de combustível e uma central elétrica" em Hodeida, declarou Mohamed al Bukhaiti, membro do politburo dos rebeldes, que controlam a cidade portuária no oeste do país. 

Os ataques têm como objetivo "pressionar o Iêmen para que deixe de apoiar" os palestinos, informou al Bukhaiti pelas redes sociais.

O Ministério da Saúde chefiado pelos rebeldes afirmou que "os ataques do inimigo israelense" causaram vítimas.

Ao menos 80 pessoas ficaram feridas, "a maioria delas com queimaduras graves" nos ataques israelenses a Hodeida, informou o ministério em um comunicado divulgado por meios de comunicação huthis, sem reportar mortos.

A TV Al Masirah, chefiada pelos rebeldes, divulgou imagens supostamente de pessoas socorridas em hospitais após os ataques, várias delas com vendas e deitadas em macas.

Um homem entrevistado pela emissora informou que muitos feridos eram funcionários do porto, onde, segundo as imagens, os ataques provocaram um enorme incêndio que se espalhou e liberou uma espessa coluna de fumaça preta.

"As equipes de defesa civil e os bombeiros tentam apagar o fogo que queima nos depósitos de petróleo do porto", reportou a Al Masirah.

- 'O sangue tem um preço' -

Os bombardeios ocorrem um dia depois de um ataque dos huthis com drone, que conseguiu driblar a eficiente defesa aérea israelense e causou a morte de um civil em um prédio residencial de Tel Aviv, o que provocou ameaças israelenses de represálias.

"O sangue dos cidadãos israelenses tem um preço", declarou o ministro da Defesa, Yoav Gallant, após os ataques.

"Isso foi claramente demonstrado no Líbano, em Gaza, no Iêmen e em outros lugares: se atreverem-se a nos atacar, o resultado será o mesmo", acrescentou.

O Exército israelense afirmou que o ataque a Tel Aviv foi realizado com um drone capaz de "percorrer grandes distâncias".

Os rebeldes iemenitas, que na semana passada advertiram que "não hesitariam em estender suas operações militares [...] até que a agressão cesse" em Gaza, ameaçaram na sexta-feira transformar Tel Aviv em "alvo principal" de futuros ataques.

Os ataques huthis no Mar Vermelho, área essencial para o comércio mundial, forçaram várias companhias de navegação a circundar toda a África, uma rota muito mais longa.

Em dezembro, os Estados Unidos, aliados de Israel, criaram uma força multinacional para proteger a navegação nesta região estratégica e lançaram vários ataques contra os huthis no Iêmen desde janeiro, com ajuda do Reino Unido.

A guerra no Iêmen, um país pobre da península arábica, confronta desde 2014 os huthis e o governo apoiado pela Arábia Saudita e provocou uma das crises humanitárias mais graves do mundo.

O porto de Hodeida é um ponto de entrada-chave para o combustível e as mercadorias nas áreas controladas pelos rebeldes, informou Mohamed Albasha, analista em Oriente Médio para a empresa americana Navanti Group.

"Agora, os comerciantes temem que [esses ataques] piorem a já crítica situação humanitária e de segurança alimentar no norte do Iêmen, já que a maior parte do comércio passa por esse porto", afirmou.

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