O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fará um discurso no Congresso americano nesta quarta-feira (24) para tentar exercer pressão em um contexto tenso entre estes dois países aliados após nove meses de guerra em Gaza.

A visita do dirigente israelense em Washington ocorre em um momento de agitação política nos Estados Unidos, com a tentativa de assassinato de Donald Trump, a desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca e a entrada de Kamala Harris na disputa, candidata quase certa às eleições de novembro contra o magnata republicano.  

Não é a primeira vez que Netanyahu tem a oportunidade de interferir na política americana. Em 2015, utilizou o Congresso dos EUA para tentar pressionar o então presidente Barack Obama contra um acordo nuclear com o Irã.

O premiê israelense, que faz visita a Washington à convite de líderes republicanos do Congresso, discursará em uma sessão especial a partir das 18h00 GMT (15h00 em Brasília).

Esta também é a quarta vez (um recorde para um líder estrangeiro) que Netanyahu fala perante o Congresso, um privilégio comumente reservado a dirigentes em visita de Estado.

Na quinta-feira (25), se reunirá na Casa Branca com o presidente Joe Biden, com quem mantém uma relação complicada, e, no dia seguinte, viajará a Mar-a-Lago a convite de Trump, com o qual tem um bom relacionamento.

Também está prevista uma reunião com Kamala Harris, que não estará presente em seu discurso devido a problemas de agenda. Segundo o protocolo, a vice-presidente americana deveria presidir a sessão.

- Visita polêmica -

A visita do primeiro-ministro israelense, que chegou a Washington na segunda-feira, está causando agitação. 

Muitos congressistas democratas estão furiosos com o líder de direita pela forma como está travando a guerra na Faixa de Gaza contra o grupo islamista palestino Hamas, um conflito que deixou dezenas de milhares de civis mortos.

Alguns anunciaram um boicote ao discurso desta quarta-feira.

"Não, Netanyahu não é bem-vindo no Congresso dos Estados Unidos", escreveu o senador de esquerda Bernie Sanders na rede social X.

O presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, alertou que não tolerará nenhum protesto durante o discurso.

Cerca de 200 manifestantes judeus contrários à guerra foram presos na terça-feira na área do Capitólio, o que demonstra o alto nível de tensão na capital americana diante da visita do premiê.

- Pós-guerra -

Os Estados Unidos são um grande aliado de Israel e seu principal apoio militar. Contudo, nos últimos meses, o governo de Biden criticou as consequências da resposta de Israel ao ataque do Hamas em seu território em 7 de outubro, que desencadeou a guerra em Gaza.

Segundo o presidente democrata, é preciso proteger mais os civis e permitir a entrada de ajuda humanitária.

Washington suspendeu a entrega de certos tipos de bombas, irritando o governo israelense.

Netanyahu aproveitará o discurso para defender o seu objetivo de eliminar o Hamas e ressaltar a ameaça representada pelo Irã, após o ataque sem precedentes de 13 de abril contra Israel.

Até o momento, a prioridade de Biden é pressionar o premiê israelense para que conclua um acordo de cessar-fogo com o Hamas, em um cenário no qual observadores suspeitam que ele está demorando a decidir sobre o assunto por pressão de membros da extrema direita de seu governo.  

Para Washington, trata-se também da preparação para o período pós-guerra. Existe uma enorme distância entre a administração Biden e o governo Netanyahu sobre a perspectiva de criação de um Estado palestino. 

"É essencial garantir que temos um plano, que é aquilo em que trabalhamos todos os dias, com os nossos parceiros árabes, com Israel, (...) para a governança, segurança, ajuda humanitária e reconstrução" de Gaza, declarou o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, na sexta-feira.

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