Atravessando o topo de um desfiladeiro nas montanhas do Himalaia, uma ponte recém-concluída permitirá à Índia reforçar o seu controle sobre a disputada Caxemira e enfrentar a ameaça estratégica da China.

A ponte ferroviária de Chenab, a mais alta de seu tipo no mundo, foi exaltada como um feito de engenharia que conecta por trem o turbulento vale da Caxemira às vastas planícies da Índia. 

Mas sua construção gerou preocupação em alguns setores deste território com um longo histórico de rejeição ao governo indiano e com a presença permanente de mais de 500 mil militares.

"O trem para a Caxemira será fundamental em tempos de paz e de guerra", disse à AFP o general reformado Deependra Singh Hooda, ex-comandante militar do norte da Índia.

A Caxemira, de maioria muçulmana, é o centro de uma rivalidade acirrada entre Índia e Paquistão e está dividida entre os dois países desde a independência do domínio britânico em 1947.

Os dois países iniciaram guerras pelo controle desta região, assim como grupos rebeldes também travaram uma insurgência de 35 anos exigindo a independência do território ou a anexação ao Paquistão.

Segundo Noor Ahmad Baba, professor de política na Universidade Central da Caxemira, a nova ponte "facilitará a movimentação de militares em maiores números do que era possível anteriormente", mas também "facilitará a circulação" de pessoas e bens, disse à AFP. 

- Transporte militar facilitado -

A ponte, com 1.315 metros de extensão, liga duas montanhas em um arco de 359 metros sobre as águas do rio Chenab. 

Com o custo de US$ 24 milhões (R$ 126,4 milhões), ela faz parte da linha ferroviária de 272 quilômetros que começa na cidade de Udhampur, quartel-general do comando norte do exército, e termina em Baramulla, uma cidade comercial perto da linha de controle com o Paquistão.

A empresa estatal Indian Railways afirma que a ponte é "talvez o maior desafio de engenharia de qualquer projeto ferroviário na história recente da Índia". 

Espera-se que a construção estimule o desenvolvimento econômico e o comércio, reduzindo o custo do transporte de mercadorias. 

Mas o general reformado Hooda afirma que o seu principal impacto será revolucionar a logística em Ladakh, região que faz fronteira com a China.

A Índia e a China, os dois países mais populosos do mundo, são rivais que disputam uma influência estratégica no Sul da Ásia, e a sua fronteira de 3.500 km tem sido uma fonte de tensão constante. 

"Tudo, desde um alfinete até equipamento militar importante... tem de ser transportado por estradas e armazenado em Ladakh durante seis meses todos os anos, antes que as estradas fechem no inverno", disse Hooda.

Agora, este transporte será facilitado pelo acesso ferroviário através da ponte.

A construção também apoiará outros projetos de túneis em andamento que ligam Caxemira e Ladakh, perto das fronteiras da China e do Paquistão.

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