Drones usam luzes para desenhar o rosto de Nicolás Maduro no céu noturno de Maracaibo, a antiga capital petrolífera da Venezuela, castigada pelo racionamento de eletricidade, em um dos eventos de campanha do presidente esquerdista na corrida para as eleições de 28 de julho.
A imagem do governante é onipresente: ele aparece na televisão, no rádio, em outdoors, murais, pedágios, ambulâncias, propaganda no YouTube e inúmeros vídeos em plataformas como o Tiktok.
Sua figura, regular na paisagem cotidiana, se multiplicou em busca de um terceiro mandato que o projetaria para 18 anos no poder.
“Há uma saturação que permite que ele sobreviva na mente das pessoas, sobretudo por se gabar de ser o herdeiro” de Chávez, disse à AFP León Hernández, membro do Instituto de Pesquisa em Informação e Comunicação da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). “Chávez continua a assombrar o imaginário coletivo".
Maduro se vende como um líder falante, mas forte. Ele dança em um jipe das Forças Armadas em uma parada de seu comício.
“Estou ativando o botão”, diz ele em um evento em Caracas, onde transfere crédito para pequenas empresas. Uma mulher começa a pular quando recebe uma mensagem em seu celular confirmando a transação.
O presidente de 61 anos se descreve como um “galo pinto”, um ícone que ele usa para minimizar seu principal oponente, o diplomata Edmundo González Urrutia, que está concorrendo pela principal coalizão de oposição diante da impossibilidade de registrar María Corina Machado, favorita nas pesquisas, mas desqualificada por sanção.
Uma gargalhada pode ser ouvida ao fundo de seus discursos e várias canções de campanha fazem alusão às sangrentas brigas de galo da tradição venezuelana.
A presença de Maduro é uma constante na televisão estatal, cujo sinal define a agenda, com inúmeras transmissões diárias de sua “peregrinação” pela Venezuela.
O presidente, que foi motorista de ônibus na juventude, muitas vezes aparece ao volante de uma caminhonete enquanto conversa com sua esposa, Cilia Flores, e autoridades, como se estivesse estrelando um reality show. Um desenho animado de propaganda chamado “Superbigote” o retrata como um super-herói com punho de ferro que luta contra a oposição e seu arquirrival, os Estados Unidos.
Um filme sobre sua vida estreou em um teatro icônico de Caracas, enquanto um livro biográfico foi apresentado. Ele assistiu à estreia na primeira fila.
“Há horas de transmissão de televisão, horas de publicidade, pressão de organizações como a Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações)”, enfatiza Hernández.
A imprensa denuncia o bloqueio de sites de notícias, em uma Venezuela onde mais de 400 meios de comunicação foram fechados em 25 anos de governos chavistas.
A desinformação também é uma arma.
Membros do alto comando militar divulgaram um vídeo de uma palestra de Machado e González para estudantes universitários, com um quadro negro ao fundo mostrando propostas para privatizar a empresa estatal de petróleo PDVSA e a educação. A AFP verificou que o vídeo havia sido alterado e que o quadro negro estava de fato vazio.
Maduro, enquanto isso, recicla promessas e reinaugura obras, ao mesmo tempo em que se proclama como “o único” que garante a “paz”.
Ele chama González Urrutia de “fraco”, fazendo alusão aos seus 74 anos de idade. “Vocês querem um presidente fraco, sem energia?”, grita ele para uma multidão. “Aqui está seu galo pinto!”.
Em meio a uma campanha maciça, as pesquisas estão se voltando contra Maduro em sua busca para permanecer no poder e ele emitiu avisos de um “banho de sangue” ou insurreição militar se for derrotado.
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