A proibição de um voo do Panamá que levaria para a Venezuela ex-mandatários latino-americanos que seriam observadores nas eleições presidenciais de domingo aumentou a tensão em torno do pleito, no qua Nicolás Maduro busca um terceiro mandato que o projetaria para 18 anos no poder.

Maduro, de 61 anos, tem como principal rival o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74, indicado pela aliança opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) devido à inabilitação política de sua candidata original, María Corina Machado, e outros dirigentes.

O presidente panamenho, José Raúl Mulino, denunciou nesta sexta-feira (26) que autoridades venezuelanas impediram a decolagem do aeroporto de Tocumen de um voo da Copa Airlines que tinha entre seus passageiros os ex-governantes.

Mulino explicou em uma mensagem na rede social X que o "bloqueio do espaço aéreo venezuelano" motivou a situação.

O grupo era composto pelos ex-presidentes Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México), todos membros da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Grupo Idea) e fortes críticos do governo de Maduro.

"Mau sinal para domingo", disse Fox em uma entrevista ao Grupo Fórmula do México. "Nos tiraram do avião com chantagem e pressões emitidas desde a Venezuela", denunciou.

Na quinta-feira, o poderoso dirigente chavista Diosdado Cabello adiantou que seria impedida a entrada deles na Venezuela.

"Se você não está convidado para uma festa, o que dizem? (...), dizem: 'por favor, tenha a amabilidade, e se retire' (...). Não estão convidados, querem aparecer", disse em seu programa de televisão. "Aqui não vão vir para bagunçar; este país tem que ser respeitado", acrescentou.

O incidente no Panamá se soma a alertas na região por advertências de Maduro sobre "um banho de sangue" em caso de vitória da oposição. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu contraparte do Chile, Gabriel Boric, expressaram preocupação.

"Não se pode ameaçar sob nenhum ponto de vista com banhos de sangue (...), o que recebem os mandatários e os candidatos são banhos de votos", expressou na quinta-feira Boric.

"Maduro tem que aprender: quando ganha, fica. Quando perde, vai embora", disse Lula na segunda-feira.

Estados Unidos, União Europeia e a maioria dos governos da América Latina não reconheceram a reeleição de Maduro em 2018 em eleições boicotadas pela oposição, que as qualificou como fraude.

John Kirby, porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, advertiu que "a repressão política e a violência são inaceitáveis".

- "Tudo pronto" -

"Temos tudo pronto", disse nesta sexta-feira o presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Elvis Amoroso, em um ato em Caracas com observadores internacionais convidados.

O processo de instalação das mais de 30 mil mesas de votação foi iniciado pela manhã, com denúncias de ativistas opositores sobre atrasos.

No entanto, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, defendeu o desdobramento do Plano República, o operativo de segurança para custodiar os comícios.

"Alerta! Pretende-se desde já, com denúncias tendenciosas através das redes sociais, enrarecer o clima eleitoral", questionou noa rede social X o chefe militar, que nesta semana negou que as Forças Armadas vão atuar como "árbitro" da eleição.

González pediu à instituição "respeitar e fazer respeitar" os resultados.

Machado informou que conversou com os presidentes da Argentina, Javier Milei; Paraguai, Santiago Peña; e Uruguai, Luis Lacalle Pou. Ela agradeceu no X "sua solidariedade e apoio" na "luta pela democracia".

"Sempre estaremos junto ao povo venezuelano", respondeu Milei.

- Prisões em massa -

A ONG de direitos humanos Foro Penal denunciou também nesta sexta-feira que 135 pessoas vinculadas à campanha do opositor González foram presas, das quais 47 permanecem detidas.

"Desde janeiro até agora foram produzidas 149 prisões arbitrárias por motivos políticos (...) e 135 estão diretamente vinculadas ao que foi a gira nacional e a campanha propriamente dita de María Corina Machado com Edmundo González Urrutia", disse à AFP seu diretor, Gonzalo Himiob.

Além disso, reporta essa organização, as autoridades fecharam locais que prestaram serviços à campanha opositora.

Há 10 candidatos no total em um processo no qual são chamados a participar 21 milhões dos 30 milhões de venezuelanos. As pesquisas favorecem González, mas o chavismo as desconsidera e acusa a oposição de planejar não reconhecer os resultados e gerar violência.

erc/arm/am

compartilhe