A morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, nesta quarta-feira (31), em um bombardeio atribuído a Israel em Teerã, é uma nova demonstração da vulnerabilidade do Irã e da capacidade dos serviços de inteligência israelenses, segundo analistas.

Ismail Haniyeh, que estava no Irã para a cerimônia de posse do presidente iraniano, Masud Pezeshkian, foi morto, segundo a mídia iraniana, durante a noite por um bombardeio aéreo contra a residência de militares veteranos iranianos na qual estava hospedado, no norte da capital, um bairro elegante e tranquilo onde vivem pessoas com boa condição financeira.

Os israelenses não confirmaram estar por trás da operação, mas "parece evidente que isso só pode vir de Israel no contexto atual" de guerra na Faixa de Gaza, considerou Agnès Levallois, do Instituto de Pesquisa e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio.

Um incidente como esse "mostra que a segurança do Irã parece um queijo suíço, em que as falhas se alinham de forma que uma ameaça pode atravessar todas as defesas", comentou com ironia Ali Vaez, analista do Crisis Group.

O líder do movimento islamista palestino foi abatido "em um local considerado seguro", o que evidencia que o Irã é "incapaz de garantir a segurança dos convidados do Líder Supremo e do presidente", observou Hasni Abidi, do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo, com sede em Genebra.

Thierry Coville, especialista em Irã do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), ressaltou que esse tipo de falha não é novo e também não surpreende.

- "Vulnerabilidade" -

Coville cita, principalmente, a morte de cientistas iranianos relacionados ao programa nuclear, como o professor de Física de partículas Masud Ali Mohammadi, em 12 de janeiro de 2010, e Majid Shahriari, fundador da Sociedade Nuclear do Irã, em 29 de novembro daquele mesmo ano.

Outros casos ocorreram em 2011 e 2012, e em 27 de novembro de 2020, quando o físico nuclear Mohsen Fakhrizadeh foi abatido perto de Teerã em um ataque contra seu comboio, também atribuído aos israelenses, com a ajuda de cúmplices.

"Há anos ouvimos falar da vulnerabilidade do Irã, especialmente em relação aos Pasdaran", os Guardiões da Revolução, apontou Thierry Coville.

No exterior, "o Irã tem uma capacidade prejudicial evidente com seus mísseis, com seus drones, mas não possui meios de defesa" para sua própria segurança interna, acrescentou Agnès Levallois.

Teerã estabeleceu um "eixo de resistência" hostil a Israel, apoiando-se em forças aliadas da região, como o Hezbollah no Líbano, grupos armados no Iraque e na Síria e os rebeldes huthis no Iêmen.

Mas em nível interno, o Irã parece mais fraco. Em abril, o centro do país foi abalado por explosões, também atribuídas a Israel, em retaliação aos bombardeios iranianos contra o território israelense.

Além disso, a República Islâmica também tem sido palco, nos últimos anos, de vários atentados sangrentos reivindicados pelo grupo Estado Islâmico, o último deles em janeiro, em um ataque que deixou pelo menos 91 mortos.

- Execuções -

Teerã publica as prisões de agentes que trabalham para serviços de inteligência estrangeiros, especialmente para o Mossad israelense. Quatro deles, condenados por "guerra contra Deus", "corrupção na terra" e "colaboração com o regime sionista", foram executados no final de dezembro.

"Que os iranianos não tenham sido capazes de impedir esse assassinato é muito embaraçoso para o Irã", apontou Agnès Levallois.

A ataque mostra que Israel novamente conseguiu obter informações "extremamente precisas" através de agentes "de primeiro nível" que possuem detalhes que, em geral, "só são compartilhados com alguns poucos", acrescentou Hasni Abidi.

Para Arash Azizi, professor da Universidade de Clemson, nos Estados Unidos, "isso confirma algo que sabemos há muito tempo: o grau de penetração de Israel nos serviços de segurança iranianos".

Além disso, segundo Hasni Abidi, os autores do bombardeio provavelmente se beneficiaram do apoio de agentes na região, aparentemente no "Curdistão ou no Azerbaijão", já que Israel conta com bases militares neste país.

Cerca de 2.000 quilômetros separam Israel do Irã.

"Geograficamente, essa operação exigiu uma escuta de proximidade", explicou o especialista.

Após essa nova operação, que pode representar "uma afronta", "uma provocação" para Teerã, "a questão é sempre a mesma: como o Irã responderá?", questionou Thierry Coville.

"Estamos em um contexto extremamente tenso. Mas acredito que o Irã [...] não quer uma guerra total", afirma.

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