A crise política causada pelas eleições presidenciais do último domingo na Venezuela intensificou a troca de farpas à distância entre o empresário Elon Musk e o presidente Nicolás Maduro.

Magnata, "ultracapitalista", apoiador de Donald Trump... Musk (dono de empresas como SpaceX e Tesla, além da rede social X) é tudo o que Maduro diz detestar, e tem sido mencionado há dias com frequência nos discursos do líder venezuelano.

Chamando-o de "arqui-inimigo", Maduro acusa Musk de orquestrar "ataques contra a Venezuela" e, inclusive, de estar por trás do "hackeamento informático", que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de viés governista, diz ter sofrido, após proclamar Maduro vencedor das eleições, sem dar os detalhes da votação.

Em entrevista coletiva concedida hoje a correspondentes estrangeiros, Maduro voltou a chamar Musk para a briga: "Venha para cá, no Poliedro, eu e você. Se eu ganhar, aceito a viagem a Marte, mas você vai comigo."

Maduro já havia desafiado Musk, logo após a eleição: "Você quer briga? Estou pronto, sou filho de Bolívar e Chávez, não tenho medo de você."

Musk respondeu dizendo que, se vencesse, Maduro deveria "renunciar ao cargo de ditador da Venezuela", e que, em caso de vitória do presidente, ele lhe daria "uma viagem grátis a Marte", das que planeja realizar no futuro com a SpaceX.

Em meio a essa disputa, Maduro anunciou ontem a criação de "uma comissão especial para avaliar, com assessoria russa e chinesa", o sistema de segurança e, em particular, o ataque que, segundo seu governo, danificou o sistema de comunicação do CNE.

"Os ataques, tenho certeza, são dirigidos pelo poder de Elon Musk", disse o presidente venezuelano, acompanhado de militares.

A oposição e os observadores internacionais não acreditam em hackeamento e consideram que se trate de uma estratégia para evitar a publicação dos resultados verdadeiros.

Na noite de ontem, diante de centenas de ativistas, Maduro voltou a atacar Musk à distância: "A Venezuela, como denunciei ontem e hoje, está enfrentando uma agressão nacional e internacional dos poderes mundiais, agora ocorre que Elon Musk - Vocês sabem quem é Elon Musk? - Agora ocorre que ele desenvolveu a obsessão de tomar a Venezuela e de governar a Venezuela de fora."

"Ele é, em grande parte, responsável por ataques e agressões", disse o presidente, referindo-se a uma "aliança da extrema direita global, a extrema direita fascista, o narcotráfico, Elon Musk e o governo imperialista dos Estados Unidos". 

"Mas lembro a vocês: todo aquele que se mete com a Venezuela, desidrata-se", afirmou, em tom grandiloquente.

- 'Vergonha para o ditador' - 

Musk comenta periodicamente no X as políticas de Maduro. Questionado sobre as críticas, um funcionário da chancelaria venezuelana comentou: "Sabemos quem é Musk. É de extrema direita e apoia o presidente argentino, Javier Milei. Sendo assim, entendemos tudo isso como um elogio."

Antes da votação do último dia 28, Musk publicou: "É hora de que o povo venezuelano tenha a oportunidade de um futuro melhor. Apoie María Corina!", em alusão à líder carismática, protagonista da campanha da oposição às presidenciais.

Quando os resultados foram anunciados, o magnata acrescentou: "Que vergonha para o ditador Maduro... Que paródia", referindo-se aos números anunciados pelo CNE, considerados pela oposição uma fraude. 

Os comentários do bilionário desataram a ira de Maduro: "Gostaria de vir invadir a Venezuela com seus foguetes e um exército. Elon Musk, felizmente você mostrou a cara porque sabíamos que você estava por trás de tudo! Com o seu dinheiro, com os seus satélites". 

Ao publicar o vídeo da intervenção de Maduro, Musk comentou, em espanhol: "O burro sabe mais do que Maduro". Em seguida, acrescentou, no mesmo idioma: "Perdão por comparar o pobre burro com Maduro, é um insulto ao mundo animal".

Maduro, que costuma denunciar que é alvo de censura, disse ser vencedor frente aos ataques do empresário e "da extrema direita mundial". "Vencemos os 'bots' [robôs digitais] e Elon Musk", comemorou.

pgf/mbj/nn/mar/val/mvv/dd-lb/am

compartilhe