Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab -  (crédito: Federico Parra / AFP)

Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab

crédito: Federico Parra / AFP

O Ministério Público da Venezuela, órgão alinhado ao regime de Nicolás Maduro, disse nesta quarta-feira (31) que 1.064 pessoas foram presas desde o anúncio da vitória do ditador nas eleições do último domingo (28), cujo resultado contestado pela oposição levou milhares de pessoas às ruas.

 

De acordo com o Procurador-Geral, Tarek William Saab, os detidos vão ser acusados de envolvimento com focos de violência durante os protestos contra o regime. "Não vai ter clemência, vai ter justiça", disse Saab enquanto mostrava vídeos de depredação de casas e espaços públicos que afirma terem sido gravados a partir do pós-eleição.

 

 

O Ministério Público também informou a morte de um policial em confrontos no estado de Aragua. Outros 77 ficaram feridos ao redor do país.

 

Já a ONG Foro Penal, que acompanha a situação de presos políticos na Venezuela, contabilizava 429 prisões diretamente ligadas aos protestos e pelo menos 11 mortes. A líder opositora María Corina Machado, força política por trás da candidatura de Edmundo González, disse que são 16 mortes e 11 sequestros desde domingo.

 

"Essa é a resposta criminosa de Maduro ao povo venezuelano que saiu às ruas em família, em comunidade, para defender sua decisão soberana de ser livre. Esses crimes não ficarão impunes", disse María Corina.

 

 

A líder opositora e González reivindicam vitória nas eleições presidenciais, com pesquisas e análises independentes apontando que Maduro foi derrotado nas urnas. O regime ainda não publicou as atas que comprovariam o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no domingo, segundo o qual Maduro teve 51% dos votos e González, 44%.

 

Países como Brasil, Colômbia e Estados Unidos pedem a divulgação desses documentos para que a vitória de Maduro nas eleições possa ser atestada, enquanto o Palácio de Miraflores afirma ter havido um ataque hacker que impossibilita sua publicação.

 

Desde segunda-feira (29), protestos contra o regime em diversas partes do país têm sido recebidos com repressão e violência por parte das forças policiais. O chefe das Forças Armadas venezuelanas, Vladimir Padrino López, disse que há uma tentativa de golpe de Estado em curso contra o regime comandada por "interesses do imperialismo norte-americano".

 

 

Jorge Rodríguez, um dos nomes mais importantes do chavismo e presidente da Assembleia Nacional controlada pelo regime, pediu a prisão de María Corina e González por "atos de vandalismo no país". O também radical Diosdado Cabello, outro no alto escalão chavista, disse na mesma Assembleia que os dois líderes opositores seriam "acusados perante as autoridades competentes pelo mais graves crimes".

 

A missão da ONU na Venezuela organizada pelo Conselho de Direitos Humanos da organização e com mandato até o próximo mês de setembro, manifestou preocupação com o cenário social.

 

Em nota, disse que tem conhecimento de "grupos de segurança pública e pessoas vestidas como civis que, identificadas inicialmente como membros dos 'colectivos', disparam com arma de foto contra pessoas que estejam se manifestando [contra o regime]".

 

 

Os chamados coletivos são grupos sociais que trabalham em projetos de organização comunal criados na época de Hugo Chávez (1954-2013), mas que a oposição e alguns especialistas independentes dizem que se transformaram em grupos paramilitares que, armados, atual à margem da lei para fazer cumprir as ordens da ditadura.

 

A missão da ONU diz ter informações de atos de violência contra civis em 17 do 23 estados na Venezuela e na capital. Afirma ainda que tem conhecimento de ao menos seis pessoas mortas e outras dezenas de feridos.