As organizações de defesa dos direitos da comunidade LGBTQIAP+ denunciaram, nesta sexta-feira(2), o "falso debate" levantado por líderes conservadores em torno do gênero de uma boxeadora argelina nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.

Com apenas 46 segundos, boxeadora italiana Angela Carini abandonou na última quinta-feira a luta contra a rival argelina Imane Khelif, depois de receber vários golpes no rosto.

As imagens do combate circularam rapidamente pelas redes sociais e líderes conservadores como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o ex-presidente americano Donald Trump criticaram a participação de Khelif nos Jogos.

Essas personalidades "não têm legitimidade para dizer nada sobre os atletas, só o Comitê Olímpico Internacional (COI) pode se pronunciar", disse Denis Quinqueton, do Observatório LGBTQIAP+ da Fundação Jean-Jaurès, da França.

Os ambientes conservadores buscam "a qualquer custo criar polêmicas sobre os assuntos relacionados à identidade de gênero", já que desejam estereotipar cada um", avalia Quinqueton, que denuncia um "falso debate". 

Em 2023, a Associação Internacional de Boxe (IBA) desclassificou a argelina e a taiwanesa Lin Yu-ting, que também está em Paris, por não cumprir os "critérios de elegibilidade" de gênero. 

Entretanto, o COI defendeu em várias ocasiões a decisão de permitir que ambas competissem em Paris, afirmando que "está determinado que são mulheres".

Para Gurchaten Sandhu, da organização internacional Ilga World, este tipo de polêmica é "uma tentativa de controlar as pessoas, o que são e como se comportam". 

Trata-se de uma "tática de distração" para desviar a atenção dos "verdadeiros problemas" como a inflação, as crises migratórias e as mudanças climáticas, acrescentou Sandhu.

A controvérsia acontece dias depois de uma primeira leva de críticas ultraconservadoras contra a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em especial por uma cena com drag queens e personalidades LGBTs.  

vac/tjc/mcd/ln/cb