A polícia de fronteira do Panamá desmantelou, nesta quarta-feira (7), uma organização que traficava migrantes chineses, oferecendo a eles uma "rota Vip" para atravessar a inóspita selva de Darién a caminho dos Estados Unidos.
"Prendemos 15 pessoas ligadas ao crime de tráfico ilícito de migrantes", disse o promotor Emeldo Márquez. Todos os detidos são panamenhos.
As prisões ocorreram na localidade rural de Santa Fe, perto da cidade de Metetí, na província de Darién, uma região de fronteira com a Colômbia por onde milhares de migrantes passam rumo aos Estados Unidos.
Segundo o promotor, os detidos operavam uma "rota Vip" que, embora reduzisse o tempo de viagem, exigia que os migrantes pagassem mais aos coiotes. Este caminho era utilizado principalmente por chineses.
Os agentes da polícia fronteiriça (Senafront), juntamente com promotores, realizaram buscas em várias casas e propriedades, onde apreenderam uma dezena de veículos usados pelos detidos para transportar os migrantes.
Algumas das propriedades eram casas simples de madeira localizadas à beira da Rodovia Interamericana, enquanto outras estavam em locais menos acessíveis, sendo acessadas por caminhos de terra, conforme constatado por jornalistas da AFP.
Várias dessas propriedades tinham câmeras e dispositivos eletrônicos nas proximidades, supostamente para alertar sobre a presença policial.
Durante as buscas também foram encontrados caminhões para transportar migrantes e casas com estabelecimentos nas imediações, supostamente para lavar dinheiro proveniente do tráfico de pessoas.
O promotor Márquez explicou que a organização "operava cobrando pacotes que variavam de 2.600 a 8.000 dólares (R$ 14,5 mil a R$ 44,9 mil) por pessoa".
De acordo com o funcionário, os detidos, que trabalham para quadrilhas colombianas do Golfo de Urabá, ajudaram a movimentar mais de 700 migrantes pelo Panamá. Os detidos podem ser condenados com penas de 15 a 20 anos de prisão.
- Via rápida -
"Este delito faz parte das ações do crime organizado transnacional" que "utiliza um fenômeno global como o fluxo migratório" e a "vulnerabilidade dos migrantes", disse o comissário Edgar Pitti, chefe da Senafront na região.
"É uma rota que foi chamada de Vip devido às facilidades que oferece para um deslocamento mais rápido do que a rota usada pela maioria dos migrantes", declarou Márquez.
Esta rota permite que os migrantes saiam das localidades colombianas de Capurganá ou Necoclí, no Caribe, e cheguem por mar às localidades panamenhas de Carreto ou Caledonia.
De lá, eles entram na selva para um trajeto que leva dois dias. Aqueles que optam pela “rota vip” podem realizar o percurso em canoas, a cavalo ou até mesmo em veículos 4x4.
Os demais migrantes demoram de 5 a 8 dias para atravessar a selva e chegar ao vilarejo panamenho de Bajo Chiquito. Para essa opção, os migrantes pagam até 500 dólares (R$ 2.800) por pessoa, segundo Márquez.
De Bajo Chiquito, seguem em canoas até um abrigo, onde recebem assistência de funcionários panamenhos e de organismos internacionais. Em seguida, continuam a viagem de ônibus para a Costa Rica.
- Ajuda de moradores locais -
Em 2023, mais de meio milhão de migrantes atravessaram a selva do Darién, enfrentando perigos como rios caudalosos, animais selvagens e grupos criminosos que roubam, estupram e matam.
Até o momento, mais de 220.000 pessoas, em sua maioria venezuelanos, mas também equatorianos, colombianos, haitianos e chineses, atravessaram a selva em 2024.
O número de migrantes chineses que cruzam o Darién subiu de 296 no período de 2010-2019 para mais de 12.000 até o momento este ano, segundo dados oficiais panamenhos.
De acordo com o Ministério Público, os chineses têm maior poder aquisitivo, o que lhes permite pagar mais aos coiotes por rotas mais curtas e seguras.
O governo panamenho anunciou há algumas semanas o fechamento de vários caminhos utilizados por migrantes na selva.
O subdiretor da Senafront, Larry Solís, afirma que os coiotes recebem ajuda de moradores locais.
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