A líder opositora María Corina Machado advertiu, nesta quinta-feira (8), para uma "onda migratória" inédita de venezuelanos se o presidente esquerdista Nicolás Maduro insistir em continuar no poder após sua controversa reeleição, enquanto Washington anunciou maior pressão internacional caso líderes da oposição sejam presos.
Machado, que denuncia fraude e reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, nas eleições realizadas em 28 de julho, enviou através da imprensa uma mensagem ao presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, sobre a possibilidade de uma "onda migratória" inédita se Maduro permanecer no poder "à força".
"Eu digo a AMLO (acrônimo do presidente mexicano) que se Maduro optar por se agarrar ao poder à força, somente poderemos ver uma onda migratória como nunca vimos: três, quatro, cinco milhões de venezuelanos em muito pouco tempo", disse Machado em videoconferência com a imprensa do México.
De acordo com números ONU, cerca de 7,7 milhões de venezuelanos emigraram nos últimos anos devido à crise, somando-se às centenas de milhares de migrantes de outras nações, principalmente centro-americanos, que atravessam o México rumo aos Estados Unidos.
O anúncio da vitória de Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo, desencadeou protestos que resultaram em pelo menos 24 mortos, segundo organizações de direitos humanos, e mais de 2.200 detidos, de acordo com o próprio Maduro.
Com os Estados Unidos à frente, vários governos pediram ao CNE a publicação das atas com os detalhes dos resultados eleitorais, enquanto se somam às denúncias da oposição venezuelana sobre uma escalada repressiva contra os adversários de Maduro.
- Mais pressão -
Washington, que lidera o endurecimento das sanções contra a Venezuela desde 2019, elevou o tom nesta quinta-feira, advertindo que a prisão dos líderes poderia "mobilizar ainda mais a comunidade internacional", incluindo os países que têm melhor relação com a Venezuela.
"Se Maduro decidir fazer isso, ele ativará a comunidade internacional de formas que não poderia imaginar, e acho que seus esforços para dividir e fracionar a comunidade internacional terão fracassado rotundamente", disse o embaixador dos Estados Unidos junto à OEA, Francisco Moraante.
Enquanto isso, o governo de Maduro denunciou uma invasão no sistema de transmissão de dados do CNE e acusou Washington de estimular um golpe de Estado.
Estados Unidos, União Europeia e países da América Latina como Argentina e Peru consideram que González Urrutia venceu a eleição, e inclusive muitos governos aliados de Maduro, como o Brasil, pediram que ele entregasse as atas de votação.
"E o que têm essas tão alardeadas atas que causaram uma espécie de histeria internacional vinda de Washington e de alguns governos satélites?", ironizou nesta quinta a vice-presidente Delcy Rodríguez durante um encontro com membros do corpo diplomático em Caracas.
"Há uma histeria internacional sobre as atas, poderiam até fazer uma série na Netflix, 'As atas na Venezuela, histeria coletiva', me desculpe, embaixador da França, mas ofuscaram até as Olimpíadas, as atas ofuscaram as Olimpíadas na França, porque há uma histeria com as atas", concluiu Rodríguez.
Em meio às denúncias de fraude eleitoral, Maduro pediu as prisões de González Urrutia e de Machado, além de ter pedido à Sala Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), acusado de servir ao chavismo, para que certificasse sua vitória.
González Urrutia, um diplomata discreto lançado como candidato devido à inelegibilidade de Machado por uma decisão do TSJ, alinhado ao chavismo, desobedeceu a duas convocações da corte máxima, que previamente indicou que não comparecer "teria consequências" legais.
Tanto González Urrutia quanto Machado limitaram suas aparições públicas, e Machado, inclusive, afirmou temer pela própria vida.
A oposição afirma ter 80% das atas digitalizadas em um site que comprova a vitória de González Urrutia, mas o governo de Maduro diz se tratar de um material repleto de inconsistências.
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