Um surfista sobrevoando as águas, um campeão de BMX subindo o obelisco da Place de la Concorde, o primeiro mergulho no Sena... Fotógrafos da AFP explicam como conseguiram capturar para a eternidade algumas das imagens mais icônicas dos Jogos Olímpicos de Paris.
- Levitando sobre as ondas -
Esta é sem dúvida uma das fotos mais vistas durante os Jogos: o surfista brasileiro Gabriel Medina parece levitar sobre as ondas, com o dedo indicador apontando para o céu, e atrás dele a prancha alinhada com seu corpo na posição vertical.
A imagem foi tirada em Teahupo'o, na Polinésia Francesa, no dia 29 de julho, por Jerome Brouillet, de um barco próximo.
O fotógrafo explicou que a área de águas mais profundas e calmas, próxima à onda, não oferecia uma linha de visão clara. Mas a posição foi ideal para eternizar o momento em que o surfista concluiu sua prova.
- Reverência à rainha -
Campeã do solo no dia 5 de agosto, Rebeca Andrade conquistou não só o reconhecimento dos jurados, mas também das rivais. Ao subir no lugar mais alto do pódio, as americanas Simone Biles – sua grande rival – e Jordan Chiles, prata e bronze respectivamente, se curvaram em sinal de admiração.
"Um gesto de muita classe", símbolo de irmandade, captado por Gabriel Bouys, que logo viralizou nas redes.
"Vi as americanas conversando antes da entrega das medalhas, suspeitei que algo poderia acontecer e resolvi ampliar o enquadramento", lembra. "Não fui eu quem fez a foto, foram elas", acrescenta.
- Biles, humanizada -
A superestrela Simone Biles, que chegou depois de uma carreira impecável em que conquistou três medalhas de ouro em outras tantas provas, falhou na trave no dia 5 de agosto, terminando em um discreto quinto lugar após uma queda.
Uma decepção que não impediu Loïc Venance de conseguir uma imagem muito gráfica da americana. "O que procuro na ginástica são fotos realmente limpas, com fundo preto e principalmente sem os painéis de luz e logotipos", explica.
Naquele último dia de ginástica artística, chegou ao pavilhão duas horas antes para conseguir um lugar favorável. "Procurava uma posição três quartos, mas não muito para poder pelo menos ter uma boa visão da trave pela frente, preservando um fundo preto atrás", detalha.
- Argentino no alto do obelisco -
Um ambiente único, uma localização espetacular e uma certa dose de sorte tornaram possível a imagem do atleta argentino de BMX Freestyle José Torres como se estivesse subindo por uma das laterais do obelisco egípcio localizado na Place de la Concorde.
Jeff Pacchoud tirou essa foto durante um treinamento no dia 29 de julho, dois dias antes de "Maligno" ganhar a medalha de ouro.
"Não foi só um clique, foi uma explosão, e com ela uma imagem que dá aquela impressão visual fantástica", confessou.
- As duas Coreias unidas por uma selfie -
Uma imagem inédita: medalhistas da Coreia do Norte e Coreia do Sul de tênis de mesa tiram uma selfie juntos no pódio, em 30 de julho.
Ambos os países vizinhos estão tecnicamente em guerra desde 1953 e as tensões são frequentes, portanto a foto reflete um gesto raro e bem-vindo de fraternidade que transcende fronteiras.
Essas selfies são comuns durante cerimônias de pódio, mas o momento foi emocionante para o fotógrafo sul-coreano da AFP, Jung Yeon-je.
"A geração dos meus pais, que viveu a Guerra da Coreia, pode ter visto a Coreia do Norte como hostil. Mas hoje muitas pessoas na Coreia do Sul veem-na simplesmente como um país vizinho com o qual devem conviver", disse ele. "Fiquei feliz. Espero que os jogadores norte-coreanos e sul-coreanos se divirtam e riam mais juntos no futuro".
- Marchand debaixo d'água -
Com quatro ouros e um bronze, o nadador francês Leon Marchand tem sido um dos grandes nomes destes Jogos.
O campeão francês foi fotografado por Oli Scarff, que tirou uma foto subaquática que ilustra o poder propulsor dos braços de Marchand durante a semifinal dos 200m borboleta, em 30 de julho.
A sua arma, uma câmera robótica desenvolvida durante anos pelo fotógrafo da AFP François-Xavier Marit, foi instalada na piscina por uma equipe de mergulhadores do Comitê Olímpico Internacional e controlada remotamente por fotógrafos da AFP, explica Scarff.
"Assim que vi isso aparecer de repente no meu computador, soube que era uma foto para editar rapidamente e publicar na rede AFP". Ele acertou.
- Primeiro mergulho no Sena -
Depois de alguns treinos terem sido cancelados devido à excessiva contaminação bacteriológica da água, a incerteza reinou até o último momento sobre a disputa de provas no rio Sena.
Por fim, as atletas do triatlo foram as primeiras a mergulhar no rio que atravessa Paris no dia 31 de julho.
O primeiro mergulho foi capturado de dentro da água por Martin Bureau, equipado com uma capa de chuva para sua câmera, sob a ponte Alexandre III.
"Esta primeira prova no Sena foi muito aguardada e o fato de haver tantos nadadores na largada tornou-a muito visual', contou, especificando que a fumaça que emanava dos barcos de apoio tornou a experiência "exaustiva".
- Celebração do judô francês -
Os judocas franceses comemoraram o título olímpico por equipes mistas contra o Japão no dia 3 de agosto, graças sobretudo às duas vitórias de seu astro Teddy Riner.
O momento foi registrado por Jack Guez, que conseguiu ficar abaixo do grupo.
Ele já havia tentado, sem sucesso, nos Jogos de Tóquio, em 2021, quando a França também venceu o Japão, mas na época a Federação Internacional de Judô não permitiu o acesso dos fotógrafos ao tatame.
"Este ano disse a mim mesmo: tenho que conseguir. Avisei ao treinador que estava interessado, sem muita esperança", confessou Guez. Mas sua visão se tornou realidade.
- O rugido de Djokovic -
Era o último grande título que lhe faltava: no dia 4 de agosto, Novak Djokovic conquistou o ouro olímpico ao vencer o espanhol Carlos Alcaraz.
A fotógrafa Patricia de Melo Moreira esteve presente para captar o momento em que ‘Nole’ completou o chamado ‘Golden Slam’ de títulos, celebrando-o com um gesto expressivo.
"Eu estava hesitante em me mover, já que os dois estavam em condições de vencer. Então Djokovic começou a se recuperar e corri para o outro lado da quadra", disse a fotógrafa, que estava localizada mais perto de Alcaraz.
O sérvio fechou o jogo momentos depois e o resto é história.
- 100 metros de tensão -
Poucas vezes uma corrida foi tão acirrada: em 4 de agosto, o velocista americano Noah Lyles foi proclamado campeão olímpico dos 100 metros com apenas cinco milésimos de vantagem sobre o jamaicano Kishane Thompson.
"A final dos 100 metros é sempre uma prova de alta tensão", destaca Jewel Samad, que imortalizou essa vitória graças a uma das suas dez câmaras instaladas bem acima da linha de chegada. "Como a final foi muito disputada, essa perspectiva de cima oferece um ponto de vista interessante".
- Duplantis, sempre mais alto -
Não havia muitas dúvidas sobre quem ficaria com o ouro no salto com vara, mas o sueco Armand Duplantis tornou isso especial ao estender seu recorde mundial para 6,25 metros em 5 de agosto.
"A atmosfera era incrível, o barulho das pessoas extraordinário", lembra o fotógrafo Ben Stansall.
"Eu estava do outro lado do estádio, com lente 400 mm (…). A distância permitiu que os anéis olímpicos se destacassem na imagem. Felizmente fiquei separado dos outros fotógrafos, o que é incomum no atletismo e foi o que tornou a imagem única".
- Onda domada -
O taitiano Kauli Vaast domou a onda de Teahupo'o para se tornar o primeiro campeão olímpico francês na história do surfe, na madrugada de 5 para 6 de agosto.
Único fotógrafo da agência credenciado debaixo d'água para essas provas, Ben Thouard imortalizou o surfista nas semifinais, poucas horas antes do título.
Para tirar uma foto como esta "é preciso ter uma localização muito precisa e muito próxima", explica este especialista em fotos de surfe há duas décadas. A chave é a "antecipação" do movimento da onda e dos surfistas, e do material.
Todas as configurações devem estar perfeitamente preparadas de antemão, pois uma vez sob a onda tudo o que se pode fazer é apertar o botão.
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