A medalha de prata da seleção feminina nos Jogos Olímpicos de Paris é um alento para o futebol brasileiro, cuja seleção masculina vive problemas para recuperar o brilho de outros tempos.

Apesar de o ouro ter escapado pela terceira vez, novamente com uma derrota (1 a 0) para os Estados Unidos, a seleção feminina voltou ao topo do cenário do futebol mundial, lugar ao qual pertenceu na primeira década do século, durante a ascensão d Marta.

Lenda do futebol feminino, a 'Rainha' estava presente nas finais olímpicas de Atenas-2004 e Pequim-2008, além do vice-campeonato na Copa do Mundo de 2007, na China.

Desde então, as brasileiras não participam de grandes decisões. Retornaram em Paris com uma nova geração promissora, um treinador que se tornou referência na América do Sul e dando tranquilidade a Marta, de 38 anos: existe vida depois dela.

"O Brasil precisava fazer coisas diferentes para ter um resultado diferente e isso foi feito. Eu sempre acreditei nisso. A seleção feminina volta ao patamar que merece estar", disse o técnico Arthur Elias, que assumiu a equipe depois de uma passagem vitoriosa pelo Corinthians feminino.

Elias chegou ao cargo em setembro do ano passado, depois do fracasso da sueca Pia Sundhage na Copa do Mundo na Nova Zelândia e Austrália, com o Brasil caindo na fase de grupos pela primeira vez desde 1995.

- "Talentosas e conscientes" -

Além de conseguir a prata no provável adeus de Marta das competições oficiais internacionais, a Seleção, com um futebol vertical, intenso e veloz, apresentou e consolidou novos talentos, especialmente a goleira Lorena e a atacante Gabi Portilho.

E conseguiu vitórias imponentes ao eliminar nas quartas de final a anfitriã França (1 a 0), da letal artilheira Marie-Antoinette Katoto, e a Espanha, atual campeã mundial, na semifinal (4 a 2).

"Eram os primeiros Jogos Olímpicos de muitas aqui e chegamos aonde chegamos. Estou muito orgulhosa do que fizemos, tivemos lesões, jogamos no limite, com dor, mas não desistimos", disse Gabi Portilho, do Corinthians.

"São meninas muito talentosas e conscientes do que podem conseguir", afirmou, por sua vez, Marta, após a derrota para os Estados Unidos na final olímpica em Paris.

Os olhares otimistas sobre a seleção feminina, que domina o cenário na América do Sul, com nove títulos de Copa América, contrastam com o panorama do time masculino.

- "Decadência" -

O sexto título mundial vem escapando dos homens, que não disputam uma final de Copa do Mundo desde o penta, em 2002. De lá para cá, exceto em 2014, quando foram humilhados pela Alemanha no fatídico 7 a 1 na semifinal, a eliminação sempre veio nas quartas.

A última conquista foi na Copa América de 2019, jogando em casa. Desde então, a Seleção sofreu várias derrotas dolorosas, como na final da Copa América em 2021, diante da Argentina de Lionel Messi no Maracanã.

Na última edição do torneio continental, disputada nos Estados Unidos entre junho e julho, o Brasil se despediu nas quartas de final derrotado pelo Uruguai, apesar das esperanças pelo bom momento de Vinícius Júnior e Rodrygo no Real Madrid.

Nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026, a Seleção ocupa a sexta posição, com apenas sete pontos depois de seis jogos, uma acima da repescagem.

E no futebol olímpico, embora tenha conquistado o ouro na Rio-2016 e em Tóquio-2020, o time sub-23 de Endrick não se classificou para os Jogos de Paris-2024.

A qualidade da geração atual é muito questionada, mas a responsabilidade da crise também passa pela dificuldade de encontrar grandes talentos e problemas na formação de treinadores.

"O Brasil está numa decadência, com certeza. Você não vê perspectiva de sermos campeões do mundo no curto prazo", disse o ex-meio-campista Raí ao jornal Folha de S.Paulo.

"O Brasil se acomodou e pensou 'ah, sempre vamos ter grandes jogadores e vamos ganhar por causa disso'. Mas o futebol foi evoluindo. Hoje em dia a técnica, os esquemas táticos e a estratégia contam muito", acrescentou o campeão mundial pela Seleção em 1994 e ídolo do São Paulo.

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