A região russa de Belgorod decretou estado de emergência nesta quarta-feira (14) devido aos intensos bombardeios das forças ucranianas, que prosseguem com sua ofensiva na região vizinha de Kursk, onde reivindicaram o controle de 74 localidades.

"A situação em nossa região de Belgorod continua sendo extremamente difícil e tensa devido aos bombardeios das Forças Armadas ucranianas. Casas foram destruídas, civis morreram e ficaram feridos", escreveu o governador Viacheslav Gladkov no Telegram.

"Para garantir maior proteção à população e prestar apoio adicional às vítimas, o estado de emergência será instaurado a nível regional a partir de quarta-feira", acrescentou.

Depois de quase dois anos e meio de guerra, Kiev tenta levar o conflito ao território russo. No dia 6 de agosto, as tropas ucranianas iniciaram uma operação em larga escala na região de Kursk que surpreendeu as forças russas.

- Kiev reivindica avanços em Kursk -

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitiu na terça-feira que há "combates difíceis e intensos" nesta zona fronteiriça, na maior incursão de um exército estrangeiro em território russo desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

"Setenta e quatro povoados estão sob o controle da Ucrânia. Inspeções e medidas de estabilização estão em andamento", publicou Zelensky no aplicativo Telegram, acrescentando que centenas de russos foram presos.

O comandante do Exército ucraniano, Oleksander Syrsky, afirmou que as tropas avançaram até três quilômetros em algumas áreas durante a terça-feira em alguns pontos e tomaram o controle de mais 40 km². A Ucrânia anunciou na segunda-feira que controlava 1.000 km² do território russo.

Do outro lado, as forças russas destacaram que haviam "desbaratado as tentativas ucranianas de penetrar profundamente" em Kursk.

O governador regional russo, Alexei Smirnov, admitiu, no entanto, que as forças do país perderam o controle de 28 localidades e disse que a operação abrange uma área de 40 km de largura e 12 km de profundidade em território russo. 

Segundo cálculos de terça-feira da AFP com base em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), que se baseia em fontes russas, as tropas ucranianas avançaram em uma área de 800 km².

Para efeito de comparação, a Rússia ganhou 1.360 km² de território ucraniano desde 1º de janeiro, segundo cálculos da AFP com base em dados do ISW.

- "Paz justa" -

"A Ucrânia não deseja anexar nenhum território da região de Kursk", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores ucraniano, Georgiy Tykhy, na terça-feira. Ele acrescentou que a operação militar cessará se Moscou aceitar uma "paz justa".

Desde fevereiro de 2022, a ex-república soviética enfrenta a invasão de Moscou, que ocupa até 20% do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014. 

As negociações entre Kiev e Moscou estão bloqueadas, devido à dificuldade de conciliar as exigências de cada parte. 

Zelensky disse querer elaborar um plano antes de novembro, data das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos - um aliado vital para Kiev -, que serviria de base para uma futura cúpula de paz que teria a participação do Kremlin.

O presidente russo, Vladimir Putin, impôs como condição para as negociações que Kiev ceda os territórios ocupados pelas tropas de Moscou e renunciasse à adesão à Otan, exigências inaceitáveis para os ucranianos e seus aliados ocidentais. 

O líder russo acusou na segunda-feira a Ucrânia de executar a operação em Kursk para "melhorar a sua posição em futuras negociações". 

- Injeção de moral -

A incursão ucraniana forçou a fuga de mais 120 mil pessoas. Pelo menos 12 civis morreram e mais de 100 ficaram feridos, segundo as autoridades regionais russas.

Para as forças de Kiev, após meses na defensiva e cedendo território para um inimigo mais numeroso e com mais armas, a operação é uma injeção de moral.

"Não houve vitórias significativas na Ucrânia nos últimos meses. Apenas os russos estavam avançando", declarou à AFP, na condição de anonimato, um comandante das forças de Kiev na região Sumy.

Outro militar da região que participou na ofensiva disse à AFP que "os russos fugiram" quando os ucranianos entraram em Kursk. Com otimismo, ele afirma que permanecerão no território.

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