A Ucrânia afirmou nesta sexta-feira (16) que um dos objetivos de sua ofensiva na região russa de Kursk é pressionar Moscou para negociações "justas" que encerrem quase dois anos e meio de guerra. 

As tropas ucranianas lançaram um ataque surpresa na região de fronteira em 6 de agosto, na maior incursão de um Exército estrangeiro em solo russo desde o final da Segunda Guerra Mundial. 

Após dez dias de avanços, Kiev afirma controlar 1.150 km2 e 82 cidades russas, incluindo Sudzha, a 10 km da fronteira e fundamental para o transporte de gás para a União Europeia através da Ucrânia. 

A operação deslocou para o território russo a guerra iniciada em fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, ocupando vastas regiões do leste e sul da ex-república soviética. 

A Ucrânia deu vários motivos para justificar seu ataque, incluindo forçar Moscou a retirar tropas de outras partes da linha da frente ou criar uma "zona de segurança" contra os bombardeios do território russo. 

Porém, está cada vez mais claro que Kiev também pretende utilizar os territórios russos tomados como moeda de troca em possíveis negociações com o Kremlin. 

"A ferramenta militar é usada objetivamente para persuadir a Rússia a entrar em um processo de negociações justas", disse nesta sexta-feira Mikhail Podoliak, conselheiro do presidente Volodimir Zelensky, na rede social X. 

Embora tenha reforçado que a Ucrânia não tem intenção de "ocupar" parte do território russo, Podoliak observou que, no caso de "possíveis" negociações, é necessário encontrar uma forma de a Rússia participar. 

Um diplomata ucraniano já havia instado a Rússia na terça-feira a aceitar "uma paz justa", sob as condições da Ucrânia.

- Exigências incompatíveis -

As negociações estão completamente estagnadas desde o início do conflito, devido a exigências difíceis de conciliar. 

Zelensky indicou que pretende elaborar um plano antes das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, seu principal aliado, que servirá de base para uma futura cúpula de paz. 

O presidente repete que a paz só será possível se o Exército russo se retirar completamente do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia que anexou em 2014. 

Seu homólogo russo, Vladimir Putin, condiciona as negociações à renúncia da Ucrânia aos territórios ocupados por Moscou e também à desistência de adesão à Otan, requisitos inaceitáveis para a Ucrânia e seus aliados ocidentais.

- "Deixamos tudo para trás" -

Pelo menos 12 civis foram mortos e 121 feridos nos primeiros dias da ofensiva ucraniana, segundo autoridades russas, que não atualizam o número de vítimas desde segunda-feira. 

Na cidade de Kursk, longe dos combates, dezenas de pessoas se aglomeraram em um abrigo temporário na quinta-feira, após fugirem às pressas de suas casas. 

"Não sabemos o que fazer. Choramos dia e noite", disse à AFP Zinaida Tarasiuk, uma aposentada de 70 anos. "Deixamos tudo para trás." 

As evacuações, com meios próprios ou com a ajuda das autoridades, ocorrem em meio aos combates na região. Um bombardeio de Moscou matou dois trabalhadores humanitários russos que participavam de uma evacuação nesta sexta-feira, segundo sua organização.

- Avanço russo no leste -

Embora a ofensiva atraia todas as atenções, a maior parte dos combates continua no leste da Ucrânia, onde as tropas russas mantêm a liderança frente ao Exército ucraniano, com escassez de soldados e munições. 

Nesta sexta-feira, Moscou reivindicou a tomada de outra cidade, Sergiivka, a cerca de 15 quilômetros de Pokrovsk, eixo logístico na rota para os redutos de Chasiv Yar e Kostantinovka. 

Na terça-feira, as forças russas relataram a tomada de outra cidade nesta região, onde avançam desde o início de maio. 

O Exército indicou nesta sexta-feira que frustrou um ataque durante a noite com 12 mísseis ATACMS dos Estados Unidos disparados pelas forças ucranianas contra a ponte da Crimeia, que liga a península à Rússia. 

Autoridades russas indicaram que sete civis ficaram feridos em um ataque ucraniano contra um centro comercial em Donetsk, cidade no leste da Ucrânia controlada por Moscou desde 2014.

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